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Louco tem repetidamente refletido sobre a escrita, sobre a necessidade da
escrita, sobre o efeito terapêutico da escrita. Agora encontra belíssima
crônica do angolano José Eduardo Agualusa, em O Globo de 22/02/2016, intitulada Quando
a literatura é imprescindível. E com subtítulo ainda mais dramático: “Em
países como Moçambique, ela tem caráter de emergência.”
Agualusa foi a Maputo,
capital de Moçambique, para ministrar uma oficina de escrita criativa. Os
participantes apresentam suas motivações: “pelo prazer da escrita”; “porque a escrita me
ajuda a compreender o mundo e a compreender-me a mim”; “porque a escrita
funciona como uma espécie de terapia”.
Uma razão
para escrever apresentada pelos jovens de Maputo chama a atenção por sua
singularidade: “para dar voz aos outros”. Os homens em Moçambique não admitem
que uma mulher leia, muito menos que escreva num blog ou que publique um livro.
As moças participantes da oficina de Agualusa puderam colocar seus textos nas
redes sociais, na esperança de mudar mentalidades.
Esperança
vã? Muito já se publicou sobre a capacidade de transformação social da
Literatura. Poucos acreditam nela. No entanto, como apontei acima, é possível
que haja aqui uma singularidade em jogo: num país em formação, ainda
essencialmente rural, a palavra pode sim ter efeito transformador. Trata-se de
oferecer novas formas de pensar, pontos de vista discordantes, para pessoas “virgens
de tratamento” (com a mente pouco contaminada), e qualquer provocação pode
surtir imprevistos efeitos. É uma esperança. Agualusa acredita nela a tal ponto
que lhe prescreve caráter de emergência!
E o
escritor angolano conclui sua crônica com o que poderíamos chamar de um belo aforismo:
“O essencial é ouvir o outro e saber dar-lhe a palavra.”