terça-feira, 3 de novembro de 2015

100 anos de A Metamorfose



"Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso".

O primeiro parágrafo de A Metamorfose, de uma estranheza desconcertante, marcou definitivamente a literatura ocidental. O livro completa agora 100 anos de sua publicação, fato que ocorreu apenas três anos após a escrita, por causa da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A novela foi escrita em apenas 20 dias, entre 17 de novembro e 7 dezembro de 1912, Kafka (1883-1924) com 29 anos de idade.

Kafka o chamava de "the bug piece" (a história do bicho), e não permitiu que a imagem do inseto aparecesse na capa do livro.
"É comum que as pessoas digam que é uma barata, mas Kafka nunca quis que isso ficasse claro. Sabemos que é um inseto nocivo e repugnante. Apenas isso", diz Modesto Carone, reconhecido tradutor de Kafka no Brasil. O autor pretendia que na capa aparecesse uma porta sendo aberta devagar, com pessoas olhando para dentro do quarto, curiosas e assustadas.

Segundo o escritor britânico Will Self, 53, estudioso de Kafka, autor do ensaio “Kafka’s Wound” (a ferida de Kafka), [Ele] “ainda importa porque suas histórias penetram o coração da condição humana e a revela torcida e desconfortável, para a nossa perplexidade. Não há muita literatura que alcance esse nível de universalidade.”

Boa releitura a todos!


Referência:



Fonte mais famosa do mundo!

A foto do dia



Fontana di Trevi, reinaugurada em Roma após 16 meses de restauração.

Foto: Gregorio Borgia / AP Photo





A arte de Evandro Affonso Ferreira



Se é verdade que Literatura é forma – e sou daqueles que pensa que é! –, Evandro Affonso Ferreira talvez seja o mais importante escritor brasileiro da atualidade.
Se a opinião deste blogueiro vale tanto quanto um risco n’água – e penso que não vale mesmo mais do que isso –, fiquemos com o julgamento de Alcir Pécora, um dos nossos mais agudos críticos literários: o homem tem estilo.
Evandro, nascido em 1945, é natural de Araxá – MG, radicado em São Paulo há 40 anos. Antes da trilogia que motivou esta crônica, ele publicou Grogotó! (Topbooks), Araã (Hedra), Erefuê, Zaratampô! e Catrâmbias (estes três pela Editora 34).
São títulos muito estranhos, como estranhos são os títulos da trilogia que tem início com Minha mãe se matou sem dizer adeus (Record, 2010), prêmio APCA de melhor romance. Depois veio O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotterdam (Record, 2012), prêmio Jabuti 2013. E a trilogia se encerra com Os piores dias de minha vida foram todos (Record, 2014), atual finalista do Jabuti.
O leitor não espere tanto do conteúdo, de histórias ou enredos – a Morte está presente em todos os momentos. O estilo sim, é espetacular e originalíssimo!
Eis pequena amostra, extraída de Minha mãe se matou sem dizer adeus:

“É domingo. Chove choro. É choro sem lágrimas. É dor invisível feito eu. É plangência que se aquieta nas entranhas. Sou introspectivo até para sofrer. Vida toda assim: enrodilhado em mim mesmo; homem-caramujo. Ultimamente me pareço mais com homem-parede revestido de papel-palavra. Ficaria menos triste se ela minha mãe tivesse deixado pelo menos um bilhete elíptico com apenas três vocábulos: PERDÃO PRECISO PARTIR. Mas partiu sem dizer adeus.”


            Vale a pena conferir.