Não
há dúvida de que a pessoa de Suzete tem despertado interesse e certa
curiosidade desde a publicação do Folhetim, tanto em livro (O mito do vaso partido e outros escritos – ExLibris editora, 2010), como no blog. https://loucoporcachorros.blogspot.com.br/search/label/Folhetim
Os que acompanham nossa correspondência
me pedem mais detalhes sobre a vida desta cabelereira que aprecia a boa
Literatura. Depois de tanto tempo trocando cartas com ela, resolvi
entrevistá-la, e o fiz pelo telefone, às 19 h de ontem (4 out 2017), depois que
o salão fechou suas portas.
Eis
sobre o que conversamos:
A: Olá, Suzete, como vai? É um prazer entrevistá-la
para o blog, e agradeço por isso.
Suzete: A honra é minha, André. Ou devo chamá-lo de Louco,
como muitos fazem no blog?
A: Você escolhe.
Suzete: Vou bem, André, como sempre cortando cabelo de
homem, lendo, (infelizmente os livros estão muito caros), escrevendo, para
espanto geral e inveja de minhas colegas de salão.
A: E o melhor é que você ama tudo o que faz, não é
verdade?
Suzete: Verdade! Podem dizer o que for, doutor T. andou
tentando diminuir meu trabalho, o resultado você já sabe, escrevi na última
cartinha.
A: Alguma novidade no salão?
Suzete: Ih! rapaz, você nem sabe. Outro dia entrou uma
mulher com jeito de homem, meio bruta, camisa xadrez e calça jeans, tênis Nike
masculino preto, foi logo perguntando Tem alguma Suzete aí?
O salão estava cheio, olhamos todas
espantadas, inclusive as freguesas que estavam sendo atendidas e as que
aguardavam.
Tem
sim, a gerente respondeu, É essa aí, apontando para mim, Mas ela só corta
cabelo de homem.
O
silêncio então foi de morte e durou a eternidade! Depois que falou, Marly, a
gerente, percebeu o fora que havia dado.
A mulher não se fez de rogada: É com
ela mesmo que eu quero cortar.
Apontei minha cadeira de trabalho, ela
sentou-se, Como é seu nome, perguntei, Rodrigo, respondeu firme, voz grossa,
sem margem para qualquer dúvida.
O
corte já ia adiantado quando resolvi lhe perguntar de onde me conhecia, pois
havia entrado no salão falando meu nome. A resposta foi um susto para mim e será
um susto maior ainda para você, André: Eu sigo o Louco por cachorros, foi lá que
fiquei sabendo do seu gosto por cortar cabelo de homem.
Veja
você, o Louco está ficando conhecido, e eu com clientes novos.
A: Que história, Suzete! O desfecho muito me apraz.
Suzete: Mas o desfecho vem agora. Rodrigo conferiu o corte,
passou a mão sobre a cabeça, disse que gostou, levantou-se da cadeira, ajeitou
a camisa, pagou-me... e pediu meu telefone!
A: E você?
Suzete: Dei o telefone, ora essa, que não sou pessoa de
preconceitos. Pode surgir daí uma amizade interessante, mas não haverá de passar
de amizade. Fique tranquilo.
A: E as leituras, como estão?
Suzete: Você sabe que sigo quase sempre as dicas do Louco.
Estou lendo Mais de uma luz, do Amós Oz, e gostando muito. O Homem é fera, pena
que tenham dado o Nobel para um japa, em vez do Oz. No ano passado foi pior,
deram o prêmio para o tocador de viola americano, uma vergonha.
Ah,
comprei no sebo um livrinho muito bonito de haicais, da Adriana Calcanhoto, e
estou gostando. Ela não segue as mesmas regras que você, mas acho que isso não
tem importância. Vou ler um:
no brasil floriu
entre os ipês
o haicai japonês
Outro
que amei:
o pato, menina,
é um animal
com buzina
Pode
parecer meio ingênuo, mas para uma cabeleireira...
A: Cabeleireira de muito bom gosto! Além das cartas
que publico no blog, você tem escrito mais alguma coisa?
Suzete: Estou juntando crônicas para um volume intitulado
Memórias de uma cabeleireira. O que você acha?
A: O título está ótimo! Vamos ver as crônicas. O caso
do Rodrigo precisa entrar. Se concordar, faço a capa do livro para você.
Suzete: Que ótimo! Qualquer dia mando uma para você
criticar, que você é bom nisso...
A: Vamos ficando por aqui, Suzete. Em outro momento
esta entrevista haverá de prosseguir. Muitíssimo obrigado.
Suzete: O prazer foi meu. Grande abraço.