Em certa manhã de primavera, ao despertar, olho pela janela de meu quarto e vejo tenebrosa floresta escura em meio a qual estou completamente perdido, só triste abandonado desprotegido vulnerável fraco indefeso incapaz de enfrentar os perigos e ameaças que a floresta esconde. Caminho caminho caminho, me ferem espinhos capins-lâminas cortantes aranhas cobras pestilências e terror, e não consigo encontrar o caminho de volta. Que caminho será esse? Voltar para onde? Para quem?
De repente uma orquestra invisível começa a tocar o concerto n.1 para piano de Shostakovich, o que faz multiplicar minha angústia, me atordoa, me confunde ainda mais. Tapo os ouvidos com minhas mãos espalmadas. A orquestra toca mais alto. Onde estou?
Acordo em sobressalto. Tudo eram restos de um sonho que ainda não havia terminado, e a floresta é apenas o belo quintal de minha casa, visto pela janela de meu quarto, em um amanhecer de primavera.