"Jun'ichirō Tanizaki (1886 - 1965) é considerado um dos maiores autores da literatura japonesa moderna. Sofreu influência de Allan Edgar Poe, participou da escola denominada A Tanbiha, que “valorizava a “arte e beleza acima de tudo”, contra o objetivismo da época.”
“Membro de uma família de mercadores, Jun'ichirō Tanizaki nasceu em Tóquio. Em sua juventude foi um admirador do mundo ocidental e das conquistas da modernidade, tendo vivido por um curto período em uma casa de estilo ocidental em Yokohama, subúrbio de Tóquio e lar de estrangeiros expatriados. Lá levou um estilo de vida boêmio. Em 1923, um forte terremoto e consequente destruição da sua casa, forçaram Tanizaki a se mudar para Ashiya, na região de Kyoto e Osaka, fornecendo cenários ao seu romance As irmãs Makioka.”
“O centro dos seus interesses é a preservação da língua e da cultura tradicional do Japão. Tanizaki faleceu aos 79 anos, em 1965, um ano após ter sido o primeiro autor japonês eleito membro honorário da American Academy and Institute of Arts and Letters.”
Principais obras: Amor insensato (1924; Companhia das Letras, 2004), Voragem (1928; idem, 2001), Há quem prefira urtigas (1930; idem, 2003), A chave (1956; idem, 2000) e Diário de um velho louco (Estação Liberdade, 2002), Elogio da Sombra. Tanizaki traduziu para o japonês autores ocidentais, como Stendhal e Oscar Wilde.
“Após a Segunda Guerra Mundial Tanizaki alcançou proeminência literária, obteve muitos prêmios e até sua morte foi considerado o maior autor vivo de seu país. A maioria de seus livros é altamente sensual, alguns centrados no erotismo. Em praticamente todos eles se destacam a agudeza de sua percepção e uma sofisticação irônica. Muito embora seja lembrado por suas novelas e contos, Tanizaki também escreveu poesia, drama e ensaio. Ele foi, acima de tudo, um magistral contador de histórias.”
Esta longa introdução se justifica em função da minha incurável ignorância, pois nunca ouvira falar do autor. Há poucos dias encontrei obra dele numa livraria, li a primeira página, gostei muito, não larguei mais o livrinho até que chegasse à última linha. Um primor de literatura! São duas novelas: A ponte flutuante dos sonhos seguido de Retrato de Shunkin, tradução do japonês de Andrei Cunha, Ariel Oliveira e Lídia Ivasa (Estação Liberdade, 2019).
Assim tem início A ponte flutuante dos sonhos:
“Veio hoje
O cuco cantar
na Toca da Garça-Cinzenta:
fim da travessia
da Ponte flutuante dos sonhos.”
“A epígrafe dessa história é uma composição de minha mãe. No entanto, o problema é que tive duas mães – uma de nascimento, outra que veio depois – e, ainda que a mais provável autora do poema seja a mãe de sangue, jamais terei certeza disso. Acredito que os motivos de minha dúvida se tornarão claros ao longo da leitura, mas posso desde já adiantar um deles: as duas mulheres eram conhecidas pelo nome de Chinu.”
A leitura segue amena, inocente, quase pueril às vezes, mas a história vai se adensando até surgirem erotismo e luxúria, sem que o autor nunca perca a elegância no exprimir-se.
Surpreendente o texto de Jun’ichiro Tanizaki!