“Um
homem de 78 anos atou um cachorro aos trilhos de uma ferrovia no deserto da
Califórnia, nos Estados Unidos, mas o maquinista de um trem que passava no
local conseguiu acessar os freios de emergência a tempo de impedir que o animal
fosse atropelado.” (1)
Aconteceu na Califórnia, mas podia
ter acontecido em qualquer outro lugar do mundo, deste mundo. A cena revela bem a dualidade Amor e Ódio em que
vivemos.
Alguns diriam que se trata do eterno
combate entre o Bem e o Mal; para os mais incisivos, entre Deus e o Diabo. E
que o homem, com seu livre arbítrio, faz a opção desejada.
Outros
podem pensar que a cena retrata apenas a condição humana: o mesmo país que gera
um Mozart, gesta um Hitler. E por condição humana entenda-se, antes de mais
nada, sua origem animal, através da evolução das espécies.
Registramos
aqui uma conclusão do premiado neurocientista português António R. Damásio, que
trabalha Na Universidade da Califórnia, em seu último livro E o cérebro criou o homem (Companhia das
Letras, 2011, p.328):
“Existem
dois tipos de controle das ações, o consciente e o não consciente, mas o
controle não consciente pode ser parcialmente moldado pelo consciente. A
infância e a adolescência humanas duram um tempo incomum porque é muito
demorado educar os processos não conscientes do nosso cérebro e criar, nesse
espaço cerebral não consciente, uma forma de controle que possa funcionar, com
mais ou menos fidelidade, segundo nossas intenções e objetivos conscientes. Podemos
descrever essa lenta educação como um processo de transferir parte do controle
consciente para um servidor inconsciente, e não como uma desistência do
controle consciente em favor de forças inconscientes que com certeza podem
causar uma devastação no comportamento humano.”
Não vamos nos iludir: “o controle
não consciente pode ser [apenas] parcialmente moldado pelo consciente”. Freud
já sabia disso! Ao final da vida, falava das dificuldades encontradas pela
terapia psicanalítica. Ele também já sabia que o processo para transformações é
demorado, mas vale a pena tentar, pois se deixamos fluir apenas as forças
inconscientes, o resultado pode ser devastador...