Theatro Municipal apresenta ciclo dedicado a Beethoven
Foto: Fabiana Stig
As nove sinfonias de Beethoven serão apresentadas na sequência, em três dias, no Theatro Municipal de São Paulo, com a Orquestra Sinfônica Municipal sob regência de Roberto Minczuk. É o que informa João Luiz Sampaio, para O Estado de S. Paulo
(31 mai 2019).
Desejo destacar as opiniões do maestro – que é quem entende do assunto – sobre a importância do evento e das obras a serem apresentadas.
“Elas [as sinfonias] representam, diz o maestro Roberto Minczuk, “o apogeu da música ocidental”. “Se Bach instituiu os pilares da música ocidental, é Beethoven que cria a noção de música moderna, que define os parâmetros da orquestra sinfônica. É ali que a orquestra começa de fato a se desenvolver. Ninguém havia feito nada parecido.”
“As sinfonias não são raras na temporada de concertos no Brasil, mas a interpretação das nove, em sequência, em três dias, é menos frequente. E é a isso que se propõe a Orquestra Sinfônica Municipal, sob regência de Minczuk, a partir desta sexta, 31, com a participação do Coro Lírico, do Coral Paulistano, da soprano Lina Mendes, da mezzo-soprano Keila de Moraes, do tenor Fernando Portari e do baixo Sávio Sperandio.”
“As sinfonias foram escritas por Beethoven ao longo de um período de 24 anos, entre 1800 e 1824. Ocupam, portanto, um espaço de tempo que vai de meados da carreira aos anos finais do compositor, quando ele já estava surdo. “É notável a evolução de Beethoven ao longo das obras, como o é também quando consideramos o ciclo das 32 sonatas para piano”, diz Minczuk. “Mas é importante lembrar que, desde o começo da sinfonia n.º 1, já há algo novo: ela não começa de forma pomposa, mas sim de maneira misteriosa, algo completamente sem precedentes.”
“Para Minczuk, a importância que as peças ganharam vai além de questões técnicas, como a utilização de novos instrumentos na orquestra ou a presença de um coro e de solistas, como na Sinfonia n.º 9. Para ele, há nelas uma simbologia e um significado que precisam ser contemplados tanto por quem toca como por quem ouve.”
“Beethoven foi evoluindo em termos de grandeza, sonoridade, de extremos, foi rompendo com paradigmas, escandalizando o público. A força e a violência do início das sinfonias n.º 3 e 5, por exemplo, mostram um autor frustrado com a própria surdez, com a dificuldade da vida em sociedade, com os próprios traumas. Essas sinfonias expõem claramente sua revolta. Mas, ao mesmo tempo, Beethoven é sempre positivo: os dramas e traumas convivem com a esperança, com a ideia de que a vida, com todas as suas dificuldades, vale a pena ser vivida”, diz o maestro.”
“Ele ressalta, no entanto, que as obras são muito contrastantes entre si. “Não há nada parecido entre elas, os movimentos são sempre diferentes em caráter, você não consegue identificar um padrão se repetindo. Na Sinfonia n.º 3, você tem o impacto de um compositor que levanta as bandeiras da Revolução Francesa, que fala de ideais, liberdade, igualdade, que fala da ruptura com a monarquia e a aristocracia. Já na Sinfonia n.º 6, o que ouvimos é a importância do contato com a natureza, o canto dos pássaros, o barulho dos riachos, o fascínio pela vida no campo. E se a 9.ª traz todo o aparato coral para o universo das sinfonias, a 7.ª é símbolo da simplicidade, a simplicidade que apenas um gênio é capaz de atingir.”
As sinfonias, por Minczuk:
“Sinfonia nº 3: é a sinfonia que, simplesmente, mudou a história da música.
Sinfonia nº 4: a introdução é quase misteriosa e, de repente, a música se transforma.
Sinfonia nº 5: a força, a contundência: é a primeira música de rock da história.
Sinfonia nº 7: há algo de luminoso, de dança, mistério. Uma obra fascinante.
Sinfonia nº 9: ela nos lembra que é preciso reconhecer a bênção que é viver.”
Com humildade, este blogueiro nada tem a acrescentar, além de que há muitos anos vem ouvindo Beethoven.