domingo, 10 de abril de 2022

Banditismo evangélico segundo Marilene Felinto

 

A crônica de hoje para a Folha de S. Paulo (9 abr 2022) recebeu o sugestivo título: Banditismo evangélico corrói na surdina instituições republicanas – Enquanto minha mãe se põe a morrer, encolhida e ainda crente, minha raiva de pastores falsários se avoluma. Escrito por mulher inteligente, lúcida, corajosa, o texto é daqueles que entram para a História de nossa República.

Marilene confessa que escreve “cheia de raiva desses evangélicos”. No instante em que escreve, sua mãe agoniza em um leito de hospital. Ela fora criada frequentando a Assembleia de Deus, e já “reconhecia há tempos que a promessa evangélica de paraíso carrega uma nódoa de falsidade, indecência, exploração e trapaça”; “desiludida, a mãe mudou-se para a Metodista e depois para a Batista”. Crítica de todas elas, ficou com sua “própria Bíblia”.

Marilene agora diz o que sente: “Eis que a farsa já pode receber o nome de fraude, de banditismo. Banditismo evangélico. ...O banditismo grassa de norte a sul, faz negócios no balcão da promiscuidade entre política e religião evangélica. A recente revelação de que o demitido ministro da Educação, o pastor presbiteriano Milton Ribeiro, fazia tráfico de influência com recursos públicos da pasta já não seria o bastante para indiciá-lo por crime? Indiciar a ele e a seu superior imediato, o fascista Jair Bolsonaro.”

         O áudio que todo mundo ouviu dizia que "Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim", afirma o Ministro.

         As negociatas eram lideradas por dois pastores da Assembleia de Deus, Gilmar Santos e Arilton Moura, acusa Marilene Felinto. E ela prossegue: “O banditismo evangélico vai corroendo na surdina as instituições republicanas, cagando em cima de uma Constituição supostamente laica. Ora, o ethos político e o ethos moral são diferentes, ressaltam os estudiosos do tema, "e não há fraqueza política maior do que o moralismo que mascara a lógica real do poder". Mascarados, criminosos, bandidos. Pois esses moralistas, esses fascistas vestidos de pastores serão vetados!”

         “Enquanto minha mãe se põe a morrer”: assim a jornalista e escritora resume a situação da própria mãe, enquanto tudo isso acontece! E exprime uma mágoa enorme: “Perder mãe é ver perder-se um pouco de todo o resto. Naquela infância evangélica, ao menos um pai ateu nos esperava em casa, fazia o contraponto. Amém.”

*


         Antes de tudo, é preciso respeitar os sentimentos de Marilene Felinto. É a frustração de uma vida inteira, ao ver a mãe iludida e aprisionada por uma igreja após outra, pelas promessas vãs de um pastor após outro, e morrer só, com a “própria” Bíblia.

         Esta é a história dos evangélicos que hoje dominam a política no Congresso Nacional, nos meandros insondáveis do Poder Executivo, chegando mais recentemente ao Supremo Tribunal Federal, para constrangimento do país.

         A mãe de Marilena representa milhares de mães, pais, famílias inteiras, todos iludidos pela promessa de um lugar no Paraíso, a custo de muito dinheiro. Este dinheiro alimenta e faz crescer o poder desses evangélicos a que Marilene se refere, que se atrevem a desvirtuar as funções mais nobres da administração pública, saqueando os Ministérios da Saúde e da Educação, logo os mais importantes, amputando assim a possibilidade de crescimento e desenvolvimento das novas gerações.

         Obrigado Marilene Felinto, por sua manifestação de resistência.

 

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marilene-felinto/2022/04/banditismo-evangelico-corroi-na-surdina-instituicoes-republicanas.shtml

 

 

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Jean Galvão