Os temas são, amor, ódio, mentira, traição, engano, dissimulação, egoísmo – tudo coisa de gente. O pretexto, uma gatinha já velha chamada Lily. É disso que trata a originalíssima novela de Jun`Ichiro Tanizaki, com o sugestivo título A gata, um homem e duas mulheres. A edição, muito bem cuidada, é da Estação Liberdade, 2016; na capa, bela pintura do início do século XIX.
O estilo de Tanizaki é, no mínimo, delicioso. Ele conta suas histórias bem devagar, repete, acrescenta pequenos detalhes a cada nova versão, beira a ingenuidade, apenas na aparência. Porém, fala mesmo é dos sentimentos humanos, complexos e conflitantes, com as particularidades da cultura nipônica.
Vejamos o início da história, uma curiosa carta de uma das mulheres, para a outra:
“Cara Fukuko,
Começo pedindo desculpas por me fazer passar por Yukiko para lhe enviar esta carta. Mas, quando você abriu este envelope, já sabia quem era o remetente, não é? E deve estar pensando, aborrecida: “Que mulher descarada, usando sem permissão o nome da minha amiga para me escrever... que grosseria!” Entenda, por favor, que se eu pusesse meu nome no envelope, com certeza ele acharia esta carta e a esconderia. Queria muito que você soubesse de algumas coisas que eu tenho para lhe contar. Por isso, não tive outra escolha.”
A carta que dá início ao relato, portanto, começa com uma mentira, a esconder o remetente. As relações são de dominação e submissão, características da obra do escritor japonês.
Vale a pena conhecer Jun`Ichiro Tanizaki!