Certas notícias, quando a gente lê, causam tamanha indignação,
que passam a ocupar nossa mente por muitos dias. Reproduzi-las é uma forma de
exorcizá-las, de enxotar o demônio, de ficar livre de um pesadelo. Por outro
lado, há o desejo de compartilhar aquela indignação, na esperança de que, se outros
ficam sabendo do ocorrido, então alguma providência pode ser tomada. Ingênua esperança
vã?
No dia 10 de março, domingo, o jornal O Estado de São Paulo
publicou extensa reportagem intitulada E por falar em mudanças..., de autoria
de Laura Greenhalgh. Tratava, basicamente, do papel da mulher diante das tão
esperadas mudanças na Igreja Católica.
Para tanto, o jornal trouxe a
entrevista com Elfriede Harth, 64 anos, cinco filhos e oito netos, uma católica
nascida em Bogotá, na Colômbia, há anos vivendo na Alemanha. Harth é socióloga,
atua no Parlamento Europeu e na Ong Católicas pelo direito de decidir.
Perguntada sobre os recentes escândalos
de pedofilia na Igreja, Harth respondeu:
“Seria importante rever o que a
Igreja pensa oficialmente sobre sexualidade. Não dá para continuar pensando que
só podem ser sacerdotes os têm órgãos masculinos, enquanto mulheres são vetadas
porque inspiram a impureza, exalam sexo. Enquanto isso, religiosos continuam
violando jovens, crianças... A meu ver, um padre que desenvolve um vínculo
amoroso com uma criança, ou um jovem, é antes de tudo um indivíduo
profundamente imaturo, alguém a quem se interdita a possibilidade de viver uma
relação plena entre iguais, um indivíduo condenado a uma existência de privação
emocional. Tudo começa por aí. Daí vêm as violações, não só de jovens e
crianças, mas de mulheres também. São abusos sexuais e abusos de poder. Há
escândalos graves envolvendo monjas, um deles terrível, no Quênia, denunciado
por uma religiosa de origem inglesa. Padres que por lá trabalhavam, preocupados
em não contrair o vírus da aids, buscavam as monjas nos conventos para
satisfazer suas necessidades sexuais. Era isso. Houve um caso em que a metade
do convento era de monjas grávidas. Muitas foram postas na rua sem qualquer
amparo, outras fizeram abortos precários, outras foram viver na prostituição.
Isso foi relatado no National Catholic
Reporter, publicação católica americana de alta credibilidade. E mais:
abusos de monjas não aconteceram só na África. O próprio jornal abriu uma
investigação, com levantamento de casos pelo mundo, e constatou-se que o
problema ocorria em 23 países, vários europeus, entre eles a própria Itália. Ou
seja, o tema da sexualidade está onipresente na Igreja.”
O blog também serve para isso, externar
a indignação diante de certos fatos, mesmo que isso não mude uma palha de lugar.
A não ser na cabeça do blogueiro...