O velho tinha plena consciência de que havia
se tornado um estorvo para a família, o que fazia dele, cheio de reumatismos,
dores, mazelas de toda natureza, um homem amargo.
Sua
mulher com frequência não conseguia esconder a irritação com aquela convivência
difícil, um peso morto, pensava ela. De vez em quando dava um tranco no velho,
a voz ríspida, quase gritada, reclamando por pouco ou quase nada:
–
Credo, que coisa horrível!
Ao
que o velho respondia:
–
Tenha paciência, mulher, está por pouco...
Aí
então é que ela perdia de vez a paciência, sabedora de que aquele pouco já durava uma eternidade. Respondia
raivosa:
–
Que nada, você ainda vai longe.
E
aquilo doía ainda mais na alma cansada do velho.