domingo, 8 de março de 2015

Pequenas considerações sobre Para sempre Alice



O filme, cuja protagonista, Julianne Moore, ganhou o Oscar de melhor atriz, já é sabido, trata de uma mulher, uma intelectual, acometida pela forma precoce do Mal de Alzheimer.

Pior, a doença tem caráter familial, os genes são transmitidos aos filhos na  altíssima percentagem de 50%. Quando a filha é comunicada desta terrível possibilidade, a reação dela não é proporcional à catástrofe anunciada, tanto que em seguida ela engravida de gêmeos, por inseminação artificial. Os embriões são selecionados, de modo que os filhos não desenvolverão a doença. Mesmo assim, a mãe será acometida, pois o teste para o mal foi positivo.

Concluo daí, e esta conclusão não pretende esgotar o assunto, que a ameaça desta doença não amedronta tanto os mais jovens quanto aterroriza os mais velhos. A razão deste comportamento constitui lei da natureza. O homem aprendeu a defender-se de todas as maneiras possíveis. O perigo não assusta tanto quando está mais distante no tempo.

Para os idosos, Alzheimer é um perigo iminente, constante, permanente, um susto cotidiano. Quando um velho esquece um fato corriqueiro, o nome do autor de um certo livro, o diretor ou o/a protagonista de um filme da moda, enfim, uma palavra qualquer, alguém da mesa logo exclama, Olha o alemão! E o engraçadinho não faz ideia de como isso ameaça o idoso. O mesmo fato do esquecimento ocorrido entre jovens passa despercebido, trata-se apenas de simples falha da memória.

Talvez seja esta a razão do grande impacto causado pelo filme, o fato inusitado de a doença poder acometer uma pessoa em plena fase produtiva da vida. Alice era uma mulher brilhante. Os velhos, de modo geral, já não o são.

Diferentes tempos

Na vida, para alguns, há um tempo de ler, e um tempo de escrever.

O que não foi saqueado está perdido!



Depois de tomar conhecimento pela mídia, e principalmente ver as imagens da destruição perpetrada pelo autodenominado Estado Islâmico, do sítio arqueológico de Hatra, de 2.000 anos, e de Nimrud, cidade assíria fundada no século 13 a.C., tem gente dizendo, Pena que ingleses, franceses e americanos não saquearam tudo que havia de precioso no Oriente Médio.

O saque, em princípio, é algo indefensável. Constitui uma forte característica do colonialismo criminoso, no qual o mais forte explora, esfola e mata o mais fraco. Quando não mata, deixa-o em frangalhos. A África é o melhor exemplo.

Porém, se você é fã do consequencialismo, nesta hora de barbárie em que vivemos, inevitavelmente há de considerar o comportamento de ingleses, franceses e americanos... O que não foi saqueado está perdido!

Esta última frase é complicada, mas a situação em si é complicada. Autoridades da UNESCO têm afirmado: Alguma coisa precisa ser feita! Já que não há diálogo possível com terroristas fanáticos (o pleonasmo aqui é pouco, em se tratando do Estado Islâmico), subentende-se na fala destas autoridades que o grupo precisa ser destruído, morto, dizimado. Isso não se fala em público, mas o consequencialismo está claramente presente.

  

4-3, 4-1


Christopher Clarey, do The New York Times de ontem (no caderno em colaboração com a Folha de S. Paulo) escreveu: “Em uma tarde de verão em Sydney, em janeiro, dois ex-campeões de Grand Slam, John McEnroe e Patric Raffer, jogaram uma versão abreviada de tênis. Raffer ganhou a partida de exibição pelo estranho e truncado placar de 4-3, 4-1. É o que a turma quer, o que a TV quer.” O novo formato do tênis está sendo chamado de Fast4.

Numa série de outros eventos esportivos, medidas idênticas para abreviar o tempo de jogo, ou torná-los mais rápidos, vêm sendo adotadas, afirma o jornalista americano, com o intuito de atrair o público jovem.

O que o artigo não trata é das possíveis causas do fenômeno. Não tenho muita dúvida de que a Internet tem algo a ver com isso. Tudo agora precisa ser ágil, rápido, curto e grosso.

Na esteira dessa onda, acaba de ser publicado o magistral Grande Sertão: Veredas, do Rosa, em quadrinhos! “Nonada”: pra que enfrentar o texto original, difícil, intrincado, aquela linguagem incompreensível de início, depois poesia pura, se podemos encontrar a história em figurinhas?

E o que dizer de D. Quixote de La Mancha, Guerra e Paz, As benevolentes? Ou de Cenas de um casamento, de Bergman?

Em Nova Iorque, o que mais se vê é gente comendo na rua, enquanto caminha. Para que perder tempo num restaurante, pedir um bom vinho, examinar com calma o cardápio, comer devagar, tomar um café?

Vivemos a era da velocidade superficial. Pensar, nem pensar... Não há tempo.

Entretanto, este blog tem publicado textos curtos, às vezes curtíssimos (microcontos, haicais, aforismos, crônicas breves), o blogueiro convencido de que estes são os formatos contemporâneos de maior aceitação da Internet.

O texto curto tem suas vantagens. Se é bem explorado, se é razoavelmente bem escrito (agora não estou falando deste Loucoporcachorros...), para quem pode pensar, ele dá o que pensar. Para quem é incapaz de pensar, resta a rapidez e a superficialidade.

Um texto curto e provocador há de despertar no leitor determinadas associações de ideias que são próprias do leitor, são originais, capazes de provocar nele outras tantas ideias, e propiciar o que pode ser chamado de expansão psíquica. O escrito inicial serve apenas de motivação. É para isso, também, que se lê. Também é para isso que o escritor escreve.