sábado, 29 de junho de 2019

João é um menino esperto

Aos amigos Paulo e Flávia



João é um menino esperto de 4 anos, que por influência paterna torce para o Flamengo.
            Com esta idade já escreve seu nome completo com letra caprichada e arrisca copiar uma ou outra palavra que encontra em jornais e revistas. Destaca-se no maternal pela permanente alegria e bom relacionamento com os coleguinhas. João é querido pelas professoras.
Qual não foi a surpresa do pai, quando o filho lhe entrega folha de papel escrita a lápis, de cima a baixo, com alguma coisa legível, outras nem tanto.  
            – Que lindo, João! Leia para mim o que está escrito.
            Ao que o menino responde incontinente:
            – Eu sei escrever, não ser ler. 
            Agora o susto do pai não tem mais tamanho. Como assim? Sabe escrever mas não sabe ler? E João emenda com autoridade:
            – Leia para mim, pai.
            Definitivamente embasbacado, o pai não sabe o que responder. Não deseja decepcionar o filho, orgulhoso daquela façanha. Mas não pode ler o que está “escrito”, se é que há alguma coisa escrita naquela folha de papel, pensa ele.
            Inteligente e sensível, João percebe o embaraço do pai.
            – Não tem importância, pai, minha mãe lê para mim.
            João entrega a folha para a mãe, que “lê” sem qualquer dificuldade a história escrita pelo filho, para a alegria do menino e desespero do pai, praticamente um analfabeto.
            O pior: quando perguntado sobre sua cor preferida, João responde:
            – Verde!

Jovens de hoje


A crônica de hoje de Hélio Schwartsman para a Folha de S.Paulo (29 jun 2019), com o título Papo de velho, deve interessar a velhos e jovens, ao menos àqueles que ainda estão interessados em aprender alguma coisa nessa vida.
Schwartsman afirma que “A gente sabe que ficou velho quando começa a se perguntar o que há de errado com os jovens de hoje”. É que ele não consegue entender o comportamento dos estudantes universitários, que, “cada vez mais, advogam por “safe spaces” (espaços seguros), “trigger warnings” (alertas sobre textos potencialmente chocantes) e se metem em protestos exóticos, entre outras esquisitices”.
Ronald S. Sullivan Jr, advogado e professor de direito em Harvard, aceitou advogar para Harvey Weinstein, o produtor de Hollywood acusado de crimes sexuais. Alunos pediram a cabeça do acadêmico e a administração de Harvard anunciou que não renovará o contrato de Sullivan como “dean”, embora ele conserve sua posição como professor. 
Informa Schwarttsman: “A primeira maluquice dos estudantes é confundir o advogado com seu cliente. Sullivan não é suspeito de nenhum delito. Talvez mais grave, os alunos estão sugerindo que existem crimes tão graves que as pessoas acusadas de tê-los cometido não devem nem ter direito a um advogado. Aliás, nem precisam passar por um julgamento para ser consideradas culpadas. Lamento dizer, mas isso é a negação dos pilares mais básicos do sistema de Justiça ocidental.”
O articulista diz que se sente estimulado sempre que se depara com “uma ideia que me tira de minha zona de conforto”. E mais: ”Isso é parte inafastável do processo de aprendizagem”. Com os universitários em questão isso não funciona assim. Dificuldade para pensar?
            Há muito, vejo que jovens universitários vêm se tornando mais conservadores que seus professores, assumindo muitas vezes posições francamente retrógradas e reacionárias, e esta impressão não é fruto de minha imaginação ou preconceito; advém da longa experiência como professor universitário. Ao final de minha vida acadêmica, tal constatação atingiu seu ápice, colaborando para a decisão de minha aposentadoria. Não desejava mais trabalhar naquele ambiente.
            Agora vem o brilhante colunista afirmar que está “oficialmente velho”, por não entender as atitudes dos moços. E conclui com ironia: “Mas isso tudo provavelmente não passa de papo de velho.”