A escritora Hilda Hilst
(1930-2004) é homenageada no Itaú Cultural, em São Paulo, de 28 de fevereiro a
21 de abril, com destaque para as notas nas agendas, registros de sonhos,
desenhos, reflexões – expondo seu método criativo.
"Hilda Hilst
foi ficcionista, poeta, dramaturga e cronista. Paixão, desejo, erotismo, morte,
busca e o significado de deus são temas que atravessam sua obra, sempre
comunicados por meio de um trabalho de linguagem cuidadoso, intensificado por
uma entrega irrestrita à literatura – pela certeza de que criava algo único."
Disse Hilda: “Talvez eu tenha escrito com muita complexidade porque a própria
vida é complexa… Não há simplicidade nenhuma no ato de existir”.
Faz muito tempo que
acompanho a escrita de Hilda Hilst, sempre difícil, impecável na forma.
Transcrevo aqui, do livro “Do desejo”, o primeiro poema:
“Porque há desejo em
mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano
era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro
decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois
nunca se faziam.
Hoje, de carne e
osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E
que descanso me dás
Depois das lidas.
Sonhei penhascos
Quando havia o jardim
aqui ao lado.
Pensei subidas onde
não havia rastros.
Extasiada, fodo
contigo
Ao invés de ganir
diante do Nada.”