Eis um rápido panorama, em números, da educação
brasileira atual:
1 - Em 2013, apenas 54,3% dos jovens conseguiram concluir o
ensino médio até os 19 anos.
2 - Nos 25% de domicílios mais pobres o número cai para
32,4%.
3 - O índice mantém-se estagnado desde 2009.
4 - 67% dos alunos de 15 anos carecem de formação mínima em
matemática.
5 - 19% carecem de formação mínima em leitura.
6 - 54% carecem de formação mínima em ciências.
7 - Entre os que conseguem terminar o grau médio, só um
terço tem alfabetização plena (redação, compreensão de texto e aritmética
básica).
8 - 36 % dos estudantes universitários nunca leram um livro
de ficção.
9 - Um grande número deles leu apenas um livro durante toda
a vida.
10 - O analfabetismo funcional ainda não foi adequadamente
quantificado, mas é estarrecedor.
Passada a
campanha eleitoral, mídia, governo, políticos (da base e da oposição), os
próprios professores, ninguém mais fala do assunto Educação, ocupados que estão
com os escândalos de corrupção (passados, presentes e futuros), a interminável
corrupção.
O fato de não se falar do assunto alimenta a estagnação.
Os
ministérios ligados à Economia e seus pretendentes ganham todos os espaços na
mídia; pouco se fala, ou não se fala no ministério da educação.
A principal
razão para tamanho descaso, penso eu, não é outra senão que os frutos a serem
colhidos dos investimentos em educação são sempre tardios, demoram duas ou três
gerações para aparecer. E isso não interessa aos políticos, mais preocupados
com seus mandatos presentes e futuros. Aliás, penso que grande parte dos
políticos é deseducada, e portanto não haveria motivação alguma para pensar seriamente
em educação.
Em
deliciosa crônica publicada recentemente, com o título O romance morreu? (do
livro do mesmo nome, Nova Fronteira, 2014), Rubem Fonseca pergunta se os
leitores vão acabar. “Talvez”, diz ele, “Mas os escritores não”. E conta uma
história engraçada sobre Camões, que aqui transcrevo:
“[Camões] era um arruaceiro e acabou na prisão, ou
por suas rixas ou por ter se envolvido com a infanta dona Maria, irmã do rei
João III. Para obter o perdão do rei, ele se propôs a servi-lo na Índia, como
soldado. Lá ficou 16 anos e, afinal, voltou para Portugal a bordo de um navio,
acompanhado de uma jovem indiana que ele amava e a quem dedicou o lindo soneto
“Alma minha gentil, que te partiste”. O navio naufragou e Camões só pensou,
durante o naufrágio, em uma coisa: salvar o manuscrito d`Os Lusíadas e dos seus poemas. Deixou a mulher amada morrer
afogada (confesso que especulo) e perdeu todos os seus bens, mas salvou os seus
manuscritos. Para quem ler? Estávamos no século XVI e muito pouca gente em
Portugal sabia ler. Mas Camões pensou nesse punhado de leitores, era para eles
que Camões escrevia, não importava quantos fossem.”
Rubem
Fonseca assegura que “o escritor vai resistir”, para alento de todos os que
gostam de escrever, mas pelo andar da carruagem, não sei se teremos muitos
leitores no futuro.