Em 10 de maio de 1933 nazistas queimaram livros em Berlim
na atual Bebelplatz
A reportagem é de Clarissa Neher, jornalista da DW Brasil.
A Bebelplatz não parece uma praça, não há banco para se sentar, não há árvores nem gramados, é só calçadão, que liga a avenida Unter den LindenàBehrenstrasse, descreve Clarissa.
No meio da Bebelplatz um monumento: uma placa de vidro cobrindo um buraco no chão. Dentro dele, prateleiras brancas vazias.
“O monumento lembra um dos episódios mais emblemáticos do período nazista. Em 10 de maio de 1933, livros de intelectuais considerados críticos ou que não se encaixavam no padrão pregado pelo regime de extrema direita comandado por Adolf Hitler foram queimados em praças públicas em várias cidades da Alemanha. Em Berlim, o palco deste ato de intolerância foi a Bebelplatz, que na época era chamada de Praça da Ópera. Em frente à praça estava o prédio da Universidade Humboldt de Berlim. Muitos universitários participaram deste ato de barbárie. Os livros queimados pertenciam principalmente às bibliotecas públicas e universitárias.”
Para não esquecer: uma placa de vidro cobrindo
um buraco no chão; dentro, prateleiras vazias
Entre os autores dos livros queimados estavam Karl Marx, Friedrich Engels, Sigmund Freud, Stefan Zweig, Thomas Mann, Bertold Brecht, Erich Kästner, e Ricarda Huch. As Ciências Humanas predominavam. “Deveriam ser banidos livros de filosofia, sociologia, história e ciências políticas que colocassem em xeque a ideologia do regime ou abrissem espaço para um debate. Primeiro foi publicado um manifesto defendendo a cultura alemã e pregando acabar com supostas mentiras. Logo em seguida veio a perseguição a professores. Estudantes deveriam denunciar professores judeus, comunistas e aqueles que fizessem críticas ao regime ou a Hitler.”
“Hoje na Bebelplatz, próximo ao monumento que lembra deste episódio histórico, há uma placa com a frase do poeta alemão Heinrich Heine (1797-1856): "Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas." A frase, escrita décadas antes, soa como uma premonição dos horrores que estavam por vir nos anos seguintes...”
“A Bebelplatz ganhou esse nome após a Segunda Guerra Mundial, mas poderia muito bem ser chamada de praça da ignorância”, afirma Clarissa.
Freud, com seu extraordinário senso de humor, pronunciou-se a respeito do episódio, com palavras semelhantes a essas: A humanidade está evoluindo; antigamente queimavam-se pessoas, hoje queimam-se livros. Ele não desconfiava do que estava por vir.