O ótimo blog do Instituto Moreira Salles acaba de publicar, na seção Correio IMS, interessantíssimo bilhete
de Carlos Drummond de Andrade, dirigido a Décio de Almeida Prado, na época
diretor do “Suplemento Literário” de O Estado de S. Paulo.
Eis o bilhete:
Rio [de Janeiro], 3 de fevereiro de
1957
Prezado Decio de Almeida Prado,
Um abraço
Aí vai, para o suplemento do Estado,
qualquer coisa parecida com um poema, longo e monótono de caso pensado. Se
achar que o verbo copular, no sétimo terceto, fere o leitor comum, pode
substituí-lo por enlaçar. Em livro a gente restabelece a palavra, como já tenho
feito.
Cordialmente, todo o apreço afetuoso do
seu
Carlos Drummond de Andrade
Rua Joaquim Nabuco, 81
Já não existe mais
tamanha delicadeza contida no gesto do poeta, que para não constranger o editor
amigo, faculta-lhe alterar o poema, para não ferir “o leitor comum”.
Já não existe mais
tamanho cuidado com as palavras e com as possíveis consequências sobre o leitor.
Já não existe mais
tamanho cuidado com o leitor.
Já não existe mais
tamanho cuidado com um amigo.
Um Carlos Drummond de
Andrade vem a este mundo apenas uma vez.
Para os que desejarem
ouvir o poema Especulações em torno da palavra homem, que contém o pomo da discórdia: