Ilustração de Carolina Daffara
“Cebola cortada evita gripe e outras doenças, atraindo vírus e bactérias? Falso.”
A pergunta, seguida da resposta, está na matéria publicada por Gabriel Alves para a Folha (23.jul.2018), e faz parte de providencial campanha iniciada por diferentes meios de comunicação, na tentativa de barrar as chamadas fake news.
Alves explica, ao negar o tal efeito mágico da cebola cortada: “A história inventada se passa no ano de 1919, quando a humanidade sofria os efeitos da gripe espanhola, que matou dezenas de milhões em todo o mundo. Ao visitar agricultores (não se sabe onde), um médico (não se sabe quem) teria descoberto um método usado por uma família capaz de prevenir a gripe: cebolas cortadas. Elas absorveriam os vírus do ar. O tal médico, ao analisar amostras das cebolas apodrecidas no microscópio, teria observado partículas virais. À época, embora a existência dos vírus fosse conhecida, não era possível observá-los. A primeira imagem só veio em 1940 com o auxílio de um microscópio eletrônico. Segundo o conhecimento médico vigente, não é possível dizer que cebolas previnem gripe ou outras doenças infecciosas. Elas podem, inclusive, ser foco de propagação de fungos e bactérias ao serem deixadas para apodrecer em temperatura ambiente nos cômodos da casa.”
Ao final da reportagem há interessante texto intitulado “manual para não propagar fake news”, com as seguintes recomendações:
1. Busque a fonte original.
2. Faça uma busca na internet: muitos casos já foram desmentidos.
3. Cheque a data: a “novidade” pode ser antiga.
4. Leia a notícia inteira.
5. Cheque o histórico de quem publicou.
6. Se a notícia não tem fonte, não repasse.
Este mesmo jornal, que faz o alerta acima, publica conhecida coluna sobre astrologia desde 10 de junho de 1998 (!), com o mesmo autor, que se não encontrou uma mina de ouro, fatura há anos explorando a ignorância alheia.
Para aqueles que ainda nutrem dúvidas, a Internet traz um texto bastante didático sobre o assunto, sob o título “Astrologia não é Ciência”, de Kepler de Souza Oliveira Filho (10 mar 2001); o endereço eletrônico é da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: http://www.if.ufrgs.br/ast/astrologia.htm
Reproduzo o último período do artigo: “Portanto, embora mais de 50% da população acredite em astrologia, trata-se somente de uma crença, sem qualquer embasamento científico.”
Chego então a minha pergunta: por que não colocar a astrologia no rol das fake news?
Como ilustração, vejamos o que diz a previsão do horóscopo do dia 29/07 a 04/08 para o signo de capricórnio (o meu!), publicado ainda pelo mesmo jornal:
“Os capricornianos iniciarão suas semanas mais introspectivos, voltados para si e com os sentimentos em desordem. Este é o momento ideal de se colocar a cabeça no lugar e dar um início mais significativo para as coisas na sua vida; é preciso entender que todos os ciclos que começam, têm um fim predeterminado. Não se apegue às coisas, pois assim o sofrimento é maior.
Saturno, em sua caminhada pelo seu domicílio, recebe bons aspectos de Urano, acentuando a capacidade criativa dos capricornianos, principalmente seu jogo de cintura na hora de sair de algum problema. A criatividade e a inventividade poderão trazer benefícios. Seja mais leve em relação às suas escolhas e não se cobre tanto. Relacionamento: momentos de reajustes; pequenos conflitos poderão ser comuns. Profissional: instabilidade profissional e desgaste podem prejudicar seu rendimento. Financeiro: invista seu dinheiro em metas de longo prazo!"
https://www.folhageral.com/horoscopo/2018/07/signo-de-capricornio-previsao-do-horoscopo-do-dia-29-07-a-04-08/#axzz5MxvNTr8E
https://www.folhageral.com/horoscopo/2018/07/signo-de-capricornio-previsao-do-horoscopo-do-dia-29-07-a-04-08/#axzz5MxvNTr8E
São conselhos nada desprezíveis: colocar a cabeça no lugar, não se apegar às coisas, aproveitar o momento de criatividade, cuidado com a instabilidade profissional (ainda bem que sou aposentado). Investir dinheiro a longo prazo até que é uma boa!
Crença é crença. Cada um que cultive a sua. Mas cuidado com as fake news.