segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Alta tecnologia

No monitor, o doutor viu a parada cardíaca e assinou o atestado de óbito. Apenas defeito no aparelho, o paciente teve alta no dia seguinte.

Mulher ao volante 3

Infartado, levado pela mulher ao pronto-socorro a 200 Km/h, ao entrar num túnel viu uma luz no final. Pensou: estou morto.

Mulher ao volante 2


De madrugada, a 200 Km por hora, ela levou o marido infartado ao pronto-socorro.
– Doutor, não morro mais, ele declarou ao chegar.

Mulher ao volante

Após de 2 garrafas de vinho, levou o marido infartado ao pronto-socorro. Bateu o carro, ambos morreram e ela teve a carteira cassada.

a casa da gente



o violoncelo azul
mesmo em silêncio
enche a casa de vida


Foto: A.Vianna, Brasília, 2013, do quadro de Antonio Torres intitulado O músico.

Você é contra o livro de bolso?


Você é contra o livro de bolso? A pergunta pode parecer pueril descabida desafinada irritante mesmo, porém, por mais singela que seja uma ideia, sempre haverá alguém que se oponha a ela – gente do contra, costuma-se dizer. Isso é bom? Penso que sim.
            Não gosto de livros de bolso. Já os manuseei nas livrarias, alguns são até bonitinhos, bem acabados, com capas atraentes, o papel geralmente ruim lembra papel de pão ou de jornal, e as letras – ah! as letras – miudinhas ilegíveis.
Objeto chinfrim, digo.
Mas não posso dizer que sou contra o livro de bolso, isso seria um exagero. As razões de ordem financeira para se comprar algo mais barato são inquestionáveis. Se o sujeito vai à praia e deseja proteger seu volume de capa dura, sobrecapa, cabeceado, da água do mar, areia e sal, por que não levar um livro de bolso? Para deixá-los no banheiro, sempre à mão, são ideais! O mesmo podemos dizer sobre carregá-los numa longa viagem, ao fim da qual estarão praticamente sebentos esfacelados molambentos, de dar pena. Mas ser contra a existência deles, convenhamos, é demais...
            Até que me deparei neste sábado último com o ótimo artigo Cultura de bolso, do Fernando Eichenberg, correspondente em Paris de O Globo, que inicia com a frase do francês Henri Filipacchi “Não se pode viver sem um livro em seu bolso”, proferida no começo dos anos 50. (A frase me encantou, pois durante toda minha vida, desde a juventude, andei com um livro debaixo do braço!) Aquele editor lançou em 1953 a coleção Livre de Poche, tornando rapidamente o pequeno objeto algo corriqueiro e cotidiano entre os franceses.
            Nos anos 60, quando o formato já era uma realidade no mundo editorial, surgiu a polêmica. Autores de renome como Maurice Blanchot voltaram-se contra a aquele tipo de publicação. Um certo estudante de medicina, não identificado por Eichenberg, em programa de televisão, defendeu a existência de uma “aristocracia de leitores”, e que o livro de bolso teria o inconveniente de proporcionar leitura a “muitas pessoas que não têm necessidade de ler”, revelando apenas uma certa “pretensão intelectual”.
            Até mesmo o filósofo alemão Jürgen Habermas entrou na briga, acrescentando outra pitada de realidade:  Com os livros de bolso, o que é durável aparece sob a forma do perecível, enquanto, ao contrário, os clubes do livro oferecem sucessos literários efêmeros sob a forma de livros feitos para durar: encadernados e com as bordas das páginas douradas”.
            O filósofo e historiador de arte Hupert Damisch, em 1964, afirmou que o livro de bolso era uma “ilusão cultural”, “mistificadora”, um “substituto simbólico de privilégios educativos e culturais dos quais a grande massa não participa”. (Isso na França, meu deus!)
            No ano seguinte a revista Les temps modernes dirigida por Sartre saiu em defesa do objeto: “O livro de bolso é feito para circular, servir, e preencherá plenamente seu papel no dia em que, considerado como um simples meio e não como um fim, a leitura, graças a ele, cessará de ser um privilégio para se tornar uma partilha, o caminho mais curto que liga um homem a outro”.
Nos anos 70 a polêmica havia se extinguido por completo: o livro de bolso tornou-se um sucesso editorial inconteste, que perdura até nossos dias. Há quem afirme que agora está seriamente ameaçado pelos e-books, mas esta é uma outra polêmica...
Repito, não gosto de livros de bolso, mas penso que melhor lê-los – e há ótimos autores publicados neste formato – do que nada ler. Gostei mesmo de saber que foram motivo de acirrada polêmica, há muito superada. De fato, tudo, mas tudo mesmo, pode ser questionado discutido conversado – desde o uso da vírgula até o livro de bolso. 
Pensar faz bem à alma.