sábado, 12 de setembro de 2020
Ainda estou pensando...
Jessie Buckley ouve explicações de Charlie Kaufman
no set de 'Estou Pensando em Acabar com Tudo'.
MARY CYBULSKI/NETFLIX
Charlie Kaufman ganhou o Oscar de melhor roteiro original com o filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, e recebeu duas outras indicações ao mesmo Oscar como roteirista com Quero ser John Malkovitch (2000) e Adaptação (2003). Fora isso, que não é pouco, nada que chamasse a atenção do público. Agora, como diretor e roteirista, surge Estou Pensando em Acabar com Tudo, pela Netflix, obra capaz de emocionar alguns e causar profunda irritação em outros.
Pertenço ao primeiro grupo, penso que o filme é extraordinário mesmo. Por que então irrita a tantos? (Minha mulher deixou a sala de tevê no meio do filme.) A reportagem de Rocío Ayuso, de Los Angeles para El País (11 set 2020), traz o relato de um fato bastante sugestivo, que nos incentiva a perseverar e assistir até o fim:
“Buckley, que interpreta a protagonista, substituiu a atriz Brie Larson poucos dias antes do início das filmagens e, quando recebeu o roteiro, ele veio com um bilhete de Kaufman que dizia: “Não se preocupe. Eu sei exatamente do que se trata”. Kaufman volta a rir com a história. "Às vezes vou longe demais na minha cabeça. Suponho que isso se deva a essa personalidade obsessiva compulsiva que tenho e às minhas ansiedades. Mas gosto de perseverar, de cavar mais fundo, porque é aí que encontro a verdade. " (O grifo é meu.)
Se o expectador acreditar que em algum momento tudo aquilo fará sentido, então ele chega ao fim do filme e há de se surpreender com ele. Acredite no diretor: “Eu sei exatamente do que se trata.” (Terminada a sessão, vale a pena ler alguma crítica, de quem se debruçou sobre a obra, buscou informações que podem nos auxiliar na compreensão da rica mensagem de Kaufman. A Internet está repleta delas.)
Acrescenta Kaufman:
“É disso que mais gosto na física quântica”. ...“É o que me faz sentir emocionalmente equilibrado ao me fazer ver a enormidade do mundo, que é muito mais complicado do que posso entender. Nem tudo é sobre mim, e isso, curiosamente, me tira da minha zona de conforto.”
Charlie Kaufman é um homem corajoso. Foi capaz de retratar a Realidade Psíquica do “protagonista” com maestria.
Inutilidade
Gostava tanto das palavras que inventou “avencário”. Depois de alguns anos, desapontado, constatou que ninguém a empregava.