terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Belo haicai



O pensamento

O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.


Guilherme de Almeida

Em tempo:

          O haicai original não recebe título, e muitos condenam este recurso ainda hoje. O haicai acima exemplifica o bom emprego do título, a dar sentido ao poema: "No rosto, uma ruga."

Feminismo, a palavra do ano




Mulheres que denunciaram assédio são "pessoa do ano" Reprodução/Time


O dicionário americano Merriam-Webster elegeu "feminismo" a palavra do ano em 2017. O lexicógrafo e editor-chefe Peter Sokolowski atribuiu a escolha ao protagonismo do movimento em três eventos nos últimos 12 meses.
A Marcha das Mulheres, em janeiro, repercutiu em todo o mundo. “O termo foi impulsionado também pelas declarações da chefe de campanha e atual conselheira de Donald Trump. "Eu não sou feminista", frisou Kellyanne Conway, em frase que resultaria no aumento da circulação da palavra e sua definição.”
O movimento "Me Too" (Eu Também) ganhou visibilidade com o escândalo de assédio sexual do produtor de Hollywood, Harvey Weinstein.
O movimento e as "mulheres que romperam o silêncio" foram eleitos, na semana passada, as "personalidades do ano" pela revista americana "Time".

            Agora só nos resta consultar o Webster para saber exatamente o que significa a palavra feminismo, pois o termo ganhou inúmeras definições, diante de tantas manifestações contra e a favor.      



O bom samaritano


Os menos religiosos parecem mais propensos a ajudar por empatia.
Foto: E. Yourdon


Ser religioso ou ateu não deixa as pessoas melhores, mas parece influir no que chamamos de generosidade e altruísmo para com desconhecidos. E as pessoas menos religiosas teriam uma tendência mais espontânea a ajudar o próximo, segundo estudos recentes. É o que revela a reportagem de Javier Salas para El País (7 NOV 2015) intitulada O bom samaritano é ateu.
Experimento realizado com menores de 5 a 12 anos em seis países culturalmente muito diferentes (Canadá, EUA, Jordânia, Turquia, África do Sul e China), revelaram que “os estudantes que não recebem valores religiosos em suas famílias são notavelmente mais generosos quando se trata de compartilhar seus tesouros com outras crianças anônimas.”  
“É importante destacar que as crianças mais altruístas vêm de famílias ateias e não religiosas”, destaca o chefe do estudo, Jean Decety, neurocientista e psicólogo da Universidade de Chicago. “Espero que as pessoas comecem a entender que a religião não é uma garantia para a moralidade, e que religião e moralidade são duas coisas diferentes”, acrescenta ao ser questionado da importância desse estudo.”  
Outra descoberta importante é que “a religiosidade faz com que as crianças sejam mais severas na hora de condenar danos interpessoais, como por exemplo os empurrões.” “Essa última descoberta encaixa bem com pesquisas anteriores com adultos: a religiosidade está diretamente relacionada com o aumento da intolerância e das atitudes punitivas contra delitos interpessoais, incluindo a probabilidade de apoiar penas mais duras”.
Em resumo, os menores criados em ambientes religiosos seriam um pouco menos generosos, e mais propensos a castigar quem se comporta mal. As crianças mais altruístas eram de famílias ateias e não religiosas.
O tema é explosivo, bem sei. Tais estudos precisam ser analisados com cuidado. O artigo de Salas é longo, descreve outras experiências com resultados semelhantes (o endereço abaixo pode ser acionado pelos interessados), e este blogueiro não deseja esticar o texto.
O que reproduzo aqui é apenas um tema para reflexão, e não a última palavra sobre o assunto.





Príncipe bonzinho



Mulheres sauditas num festival de curta-metragens realizado em outubro em Riad. FAYEZ NURELDINE AFP


O programa de reformas lançado pelo príncipe herdeiro Mohamed bin Salman (conhecido pelas iniciais MBS), para modernizar a Arábia Saudita, inclui a abertura de salas de cinema pela primeira vez em quatro décadas. (Que bonzinho!)

Informa a reportagem de Ángeles Espinosa (Dubai, 11 DEZ 2017) para El País: “Até hoje, apenas dois longas-metragens foram filmados no reino com atores sauditas: O Sonho de Wadjda, de 2012, e Barakah Yoqabil Barakah, de 2016. Num país onde 70% da população tem menos de 30 anos, só quem tem mais de 50 se lembra das salas que existiam em Riad e Jidá até a década dos setenta do século passado. Essa carência obriga os cinéfilos sauditas a peregrinarem a Dubai ou ao Bahrein, como faziam os espanhóis na época franquista indo a Biarritz ou Perpignan para ver filmes proibidos pela censura.”

            Os sauditas não sabem o que estiveram perdendo! Provavelmente continuarão perdendo, pois a censura será feroz. Tarantino, jamais! Mulher pelada, nunca! Sobra o quê?