Nuvens de poeira e de
vapor d'água sobre o deserto do Saara
(Foto: Nasa)
Como o deserto do Saara participa
do regime de chuvas da Amazônia, a 5 mil km de distância: este o título
de matéria interessantíssima publicada por Evanildo da Silveira, para a BBC (19/03/2018).
Embora muito distantes (5,3 mil
km e o Atlântico separam as cidades de Manaus e Nouakchott, capital da Mauritânia),
o deserto do norte da África e a floresta amazônica têm uma relação muito
estreita, pois o deserto beneficia a mata (e não o contrário, por estranho que
pareça): ele é responsável pela maior
parte das chuvas torrenciais que caem sobre a região, mantendo sua exuberância
e biodiversidade, além de enviar toneladas de nutrientes para sua vegetação,
como o fósforo.
Informa Silveira: “Os
"núcleos de condensação" – a parte da nuvem em que o vapor de água se
condensa – são formados, entre outros elementos, por partículas em suspensão no
ar, poeira, por exemplo. No caso da
floresta amazônica, uma parcela desses aerossóis é proveniente do Saara.”
O fenômeno começa com as
tempestades no Saara, que levantam toneladas de poeira e areia, transportados por
cima do Oceano Atlântico, até a floresta amazônica, numa distância de 5 mil km.
"Isso ocorre de fevereiro a maio, pois, nesta época, a chamada Zona de
Convergência Intertropical, ao sul de Manaus, favorecendo o transporte de
massas de ar do hemisfério Norte para a Amazônia Central", explica Paulo Artaxo,
físico do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
Artaxo diz que, “para que haja
chuva, são necessários três ingredientes básicos: vapor de água, condições
termodinâmicas ideais e as partículas que servirão de meio para que o vapor
possa se condensar. Os grãos de poeira do Saara, que também podem ser chamados
de aerossóis, operam como uma destas partículas em que o vapor de água se
condensa. Atuam como núcleos de condensação de gelo, fazendo com que gotas
líquidas, ao atingirem altas altitudes e temperaturas menores que -10 ºC,
congelem e formem gotas de gelo, que são eficientes no processo de formação de
chuva na Amazônia."
Foto de satélite
mostra a onda de poeira se deslocando
a partir da costa do
norte da África (Foto: Nasa)
Em 2015, a Nasa, a agência
espacial americana, divulgou estudo segundo o qual todos os anos o deserto
envia, junto com o pó, 22 mil toneladas de fósforo, nutriente encontrado em
fertilizantes comerciais e essencial para o crescimento da floresta. É quase a
mesma quantidade que a mata produz, com a decomposição das árvores caídas e, em
seguida, perde com as chuvas e inundações.
Segundo Artaxo, pesquisadores agora
estão empenhados em descobrir se o aquecimento global pode interferir no
fenômeno do transporte de poeira do Saara para a Amazônia e, consequentemente,
na formação e no volume de chuva na região da floresta brasileira.