Termino a leitura de As irmãs Makioka, de Jun‘Ichiro Tanizaki (Estação Liberdade, 2019). Como o livro contém 742 páginas, e não é barato, passou-me célere pela mente uma nuvem de tristeza, só de pensar que muito poucas pessoas haverão de lê-lo, sem saber o que estarão perdendo.
Passada a tal nuvem, retorna meu estado de espírito de esfuziante alegria, por ter lido a obra aos 73 anos de idade, em plena lucidez – sou grato à Vida por isso!
Trata-se de um romance, parece que o único escrito pelo autor, que descreve a saga das quatro irmãs Makioka. A mais velha é casada e tem vários filhos que nunca entram na história, embora o marido seja muito atuante; a segunda também é casada, tem uma filha pequena, menina inteligente, e o marido é igualmente decisivo; a terceira, aos 35 ainda permanece solteira, e precisa casar para que a quarta irmã, a koisan (irmã caçula) possa casar. (Koisan é bem da pá virada...) Aí está o resumo da história, que vai do início do século XX até a metade da Segunda Guerra Mundial.
O que interessa mesmo é a literatura de altíssimo nível, a despeito de se tratar de uma tradução. (São quatro os tradutores: Leiko Gotoda, Kanami Hirai, Neide Nagae e Elisa Atsuko Tashiro, merecedores de aplausos pelo esforço hercúleo, imagino.) A leitura é agradabilíssima, mágica mesmo, pois embora nada aconteça de extraordinário, prende o leitor até a última página. Aos interessados, já postei trecho do livro, sob o título “Vagalumes”, aqui no blog:
http://loucoporcachorros.blogspot.com/2020/03/vagalumes.html
http://loucoporcachorros.blogspot.com/2020/03/vagalumes.html
Minto, vez em quando acontece um tsunami de montanha, um tufão, uma doença grave em uma das irmãs, a morte de certo pretendente, mas logo a vida volta ao normal, serena e pacífica, em “ritmo milenar”, se é que existe tal expressão.
A contínua citação de restaurantes japoneses e as respectivas comidas típicas é de dar água na boca!
Jun’Ichiro Tanizaki (1886-1965), nascido em Tóquio, foi um magistral contador de histórias! Inicio a crônica falando de minha alegria ao ler o livro, mas bate uma certa tristeza ao terminar a leitura, uma certa melancolia. Quem ainda não sentiu isso diante de um bom livro?