segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Drummond escreve a Oswald



Carta sobre
Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade

(Belo Horizonte, 1928)

“Oswald

É muito provável que V. não tenha reparado no meu silêncio sobre o Primeiro caderno de poesia. Silêncio de indivíduo pouco sério epistolarmente falando, mas que não significa nem pouco caso nem quebra daquela velha admiração bocó que eu, mesmo sem querer, dedico a V. Pelo contrário, esse Primeiro caderno me fez ficar cada vez mais incondicionalmente seu admirador. Não é para me gabar, mas eu gosto um horror de sua poesia. V. ocupa um lugar tão diferente dos outros lugares no modernismo brasileiro, que estar com V. é ter a sensação de estar sozinho. Antes só do que mal acompanhado se bem que estar mal acompanhado também é gostoso.
            Não gostei por igual de seus poemas, porque de alguns eu gostei mais. A saber, “adolescência”, velhice”, “meus sete anos”, “o filho da comadre esperança”, “poema de fraque”. Acho que V. foi o mais longe possível nesses versos. Chegou a uma simplicidade simples por demais. É verdade que se der ainda um passo à frente... cuidado! Era uma vez um aluno de poesia.
            Mas V. é muito esperto e não precisa que eu lhe diga essas coisas.
            Comprei e não li A estrela do absinto. É horrível em 1928, e dou-lhe os meus pêsames mais sinceros.
            Recomenda-me a d. Tarsila, e queira bem ao seu de verdade

Carlos
Rua Silva Jardim, 117.

Vai junto um poeminha para V. ler.”

***

            O texto foi retirado do livro Poesias Reunidas, de Oswald de Andrade (Companhia das Letras, 2017, p. 235), motivo de recente post neste blog. http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2017/02/o-poeta-oswald.html
Não é mesmo uma delícia esta cartinha!!! A delicadeza de Drummond emociona a gente; destaco alguns exemplos:

a) “É muito provável que V. não tenha reparado no meu silêncio”: com humildade, o poeta reafirma sua desimportância...
b) “Não é para me gabar, mas eu gosto um horror de sua poesia”: gostar um horror é gíria da época, significa gostar muitíssimo; ainda aqui, o poeta, humilíssimo, não se gaba (não merece) nem mesmo de gostar da poesia de Oswald...
c) “Não gostei por igual de seus poemas, porque de alguns eu gostei mais”: Drummond não fala dos que possivelmente não gostou, refere-se apenas aos que gostou mais...
d) “Acho que V. foi o mais longe possível nesses versos.” “É verdade que se der ainda um passo à frente... cuidado! Era uma vez um aluno de poesia”: delicadeza maior, impossível! Que cuidado para não ferir o amigo, com o conselho de quem conhece poesia! Cuidado, Oswald! E acho – agora fica fácil de julgar – que Drummond tinha razão...
e) “Recomenda-me a d. Tarsila”: pena que isso não exista mais...

            Os poemas “adolescência” e “velhice” já tinham sido reproduzidos aqui, no post citado acima. Os demais, a gosto de Drummond, reproduzo agora:

meus sete anos

Papai vinha de tarde
Da faina de labutar
Eu esperava na calçada
Papai era gerente
Do Banco Popular
Eu aprendia com ele
Os nomes dos negócios
Juros hipotecas
Prazo amortização
Papai era gerente
Do Banco Popular
Mas descontava cheques
No guichê do coração
           

o filho da comadre esperança

Era o deserdado
Tinha uma história de envenenamento
No passado
Magro pálido trabalhador
Mas agora à força de lutar
Conseguiu uma posição na Bolsa de Mercadorias
E comprou um chapéu novo


poema de fraque

No termômetro azul
Da cidade comovida
Faze as pazes
Com a vida
Saúda respeitosamente
As famílias
Das janelas

Um balão vivo
Se destaca
Das primeiras estrelas
Lamparina às avessas
Do santuário da terra
Faze a pazes
As crianças brincam

            Preciso encontrar agora a resposta de Oswald de Andrade a Carlos Drummond de Andrade, dois grandes poetas!

Foto: página 113 do referido volume.

Assassinato entre chimpanzés


Foudouko, macho alfa do grupo de chimpanzés, pelo ar de superioridade e testa enrugada ganhou o apelido de Saddam, pelos antropólogos que o observavam no Senegal, há onze anos.
Foudouko foi deposto em 2007, e perdeu o poder após seu número dois, o macho beta Mamadou, se ferir gravemente. Enfraquecido, o líder fugiu. Voltou  após cinco anos de exílio, mas foi escorraçado pelos machos do grupo. Em 2013, aos 17 anos de idade, acabou assassinado.
As mãos e um pé de Foudouko estavam cheios de marcas de dentes, sugerindo que dois chimpanzés abocanharam seus braços, enquanto outros o agrediam com violência extrema. O grupo continuou atirando pedras, dilaceraram sua garganta e comeram partes do corpo já sem vida. A fêmea mais gulosa era a mãe de dois machos agora no comando da tribo.
            Não são frequentes assassinatos entre os chimpanzés.
O famoso primatólogo Frans de Waal, o autor de "Eu, Primata" (2007), descreveu situação similar com um grupo de chimpanzés cativos, na qual a liderança era instável. "Um alfa foi morto e castrado por dois machos frustrados após perderem o posto de dominantes". Afirma Waal:  "Se um alfa tem mão pesada e aterroriza a todos, isso pode terminar mal para ele. Se o alfa é popular, seria deposto sem tamanha agressão."
Eduardo Ottoni, da USP, diz que a força de um alfa "depende muito de alianças. Caso seu beta o traia e se una a outro, esses dois podem dar um pau nele".
Canibalismo também é infrequente: “A fêmea Zora arrancou o pênis e testículos de um macho e os comeu com folhas frescas arrancadas de uma muda, relata "The Real Chimpanzee" (2009), que fala sobre as estratégias sexuais dessa espécie conhecida, no nome científico, como Pan troglodytes.”
Conhecer a evolução das espécies, em particular a dos primatas, ajuda a compreender melhor certos comportamentos do primata a quem chamamos de humano.


"Um assassinato na Turquia"



Imagem da morte de embaixador vence prêmio de fotografia

"Um assassinato na Turquia": fotografia do turco Burhan Ozbilici, que trabalha há 28 anos para a agência Associated Press.

A foto mostra Mevlut Mert Altintas, momentos após assassinar Andrei Karlov, embaixador russo na Turquia, durante evento em dezembro de 2016 (World Press Photo Foundation/Reuters)