terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Um pouco de teoria

100 anos de Semana de Arte Moderna

 



 

“Um pouco de teoria?

Acredito que o lirismo, nascido no

subconsciente, acrisolado num pensamento claro

ou confuso, cria frases que são versos inteiros,

sem prejuízo de medir tantas sílabas, com

acentuação determinada.

entroncamento é sueto para os condenados da

prisão alexandrina. Há porém raro exemplo dele

este livro. Uso de cachimbo...

 

A inspiração é fugaz, violenta. Qualquer

empecilho a perturba e mesmo emudece. Arte,

que, somada a Lirismo, dá Poesia, não

consiste em prejudicar a doida carreira do

estado lírico para avisá-lo das pedras e cercas

de arame no caminho. Deixe que tropece, caia

e se fira. Arte é montar mais tarde o poema de

repetições fastientas, de sentimentalidades

românticas, de pormenores inúteis ou

inexpressivos.”

 

            Mário de Andrade

            Pauliceia desvairada

            In Prefácio interessantíssimo, p. 39-40

            De Pauliceia desvairada a lira paulistana

            Ed. Martin Claret, 2016

 

 

A ponte

 

Quatro vezes ao dia ela cruza a ponte que separa o bairro onde mora do centro da cidade. O movimento de automóveis é sempre intenso nas seis faixas de rolamento, três em cada sentido, a qualquer hora do dia, da noite e mesmo da madrugada. 

Nas laterais há uma espécie de calçada para pedestres, que atravessam a ponte em suas caminhadas ou corridas diárias, pela manhã e à tarde. Ciclistas, em menor número, fazem o mesmo percurso. Alguns poucos turistas podem ser vistos na área, descendo de enormes ônibus coloridos.

            Além dos que se exercitam, facilmente identificados pelos trajes esportivos, ela observa quando cruza a ponte ao final da tarde ou começo da noite um outro tipo de gente a perambular pelas calçadas, também identificável com facilidade, por duas particularidades. Essas pessoas se cobrem de trajes pobres, às vezes esfarrapados; e carregam trouxas ou empurram carrinhos de supermercado entulhados de bugigangas. Às vezes apenas suas enigmáticas silhuetas se tornam visíveis à motorista, nas calçadas pouco iluminadas.

            A ponte foi construída para o deslocamento de pessoas em automóveis, ônibus e caminhões, para gente que mora na populosa periferia e que trabalha no centro da cidade. Ela não foi construída para pedestres, não há bairros pobres nas proximidades da ponte, a justificar que os mais desvalidos necessitem percorrê-la a pé, se deslocando de um lugar a outro.

            O que fazem na ponte essas pessoas carregando trouxas ou empurrando carrinhos de supermercado ao final da tarde? De onde vêm? Para onde vão com o cair da noite? O que pretendem com este anônimo caminhar?

            Ela sente o desejo de parar o carro e se informar, porém não há local próprio para estacionamento, o que de fato é proibido, para evitar acidentes; o movimento de veículos é intenso, é hora do rush; uma temeridade descer do veículo.

            Restam as perguntas, o estranhamento diário. 

            

Soberano

jequitibá-rosa

o gigante soberano

resguarda o jardim






Fotos: AVianna, fev 2022
iPhone 11 Pro Max


Máscara alimentado

Galeria de família 



Pela manhã, antes de sair para o trabalho, Mercêdes alimenta os gatos da rua que orbitam nossa casa.


Foto: AVianna, fev 2022.

Oriente médio

Eu amo mapas 


Topografia do Oriente Médio



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Densidade populacional africana

 Eu amo mapas



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Discurso pronunciado a 7 de Dezembro de 1998 na Academia Sueca

100 anos de José Saramago 


Prêmio Nobel


De como a personagem foi mestre e o autor seu aprendiz 


“A Pilar” 

 

“O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom carácter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha- pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável. Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de ferro que accionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: «José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira.» Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para todas as pessoas da casa, a figueira. Mais ou menos por 

antonomásia, palavra erudita que só muitos anos depois viria a conhecer e a saber o que significava... No meio da paz nocturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direcção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia.” ...

 

 

Trecho inicial do discurso de Saramago na Academia Sueca.

 

https://www.josesaramago.org/wp-content/uploads/2021/06/discursos_estocolmo_portugues.pdf

 

Às ordens!

Charge do dia 


Nando Motta e fr@nk

Dia da língua materna



INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE ESPERANTO


http://easp.org.br – Redação: Paulo S.Viana 

 

 

 

Em 21 de fevereiro comemora-se o Dia da Língua Materna. Esperantistas de todo o mundo expressam, na ocasião, seu apoio a um dos direitos universais do homem: o direito à preservação de sua cultura de origem, em que o idioma representa algo de valor inestimável. 

A Associação Universal de Esperanto, em nome de toda a comunidade Esperantista, enviou à Unesco a sua manifestação de apoio à preservação das culturas minoritárias que compõem o amplo espectro da Humanidade. 

Ao contrário do que se poderia pensar, o Esperanto não visa ser o único idioma da Humanidade, mas o segundo idioma de cada povo. Com a adoção da Língua Internacional neutra, as línguas maternas podem ser mantidas e cultivadas. Nesse sentido, é importante que as crianças possam ser educadas em sua língua materna, base para posterior aquisição de conhecimento.