Minha casa é um lago de água quieta e escura.
No fundo, há camadas de lodo antigo,
depositado ali desde tempos remotos.
Meus pés não alcançam
o sumidouro poço vertigem.
Há poucos peixes nesse lago obscuro,
que ali pulsam suas guelras viscosas,
sem assomar à superfície,
sem se mostrar, afeitos ao desprovido de luz.
Minha casa é inabitável,
por ela transitam espíritos,
antigas cenas constrangimentos estranhezas
arrependimentos segredos cansaços
risadas fantasias medos
muitas dúvidas e culpas.
Minha casa é líquida,
fluida inapreensível incolor
fumo no ar de uma tarde cinza.
Minha casa é feita de material reaproveitado.
Casa casulo teia toca ninho.
Aqui me puseram, aqui quedo.
Para todo o sempre.
Paulo Sergio Viana
Poema a ser publicado brevemente,
no livro intitulado Esmo.