Desde a campanha eleitoral que Jair Bolsonaro sonha em aumentar o número de vagas no Superior Tribunal Federal para aumentar seu poder sobre a corte. Kassio Nunes Marques foi indicado por ele na vaga de Celso de Mello e tem se mostrado fiel ao presidente, pois autorizou a realização de cultos durante a pandemia, suspendeu quebras de sigilos na CPI da Covid e se alinhou ao governo em pelo menos 20 casos. Agora surge a oportunidade de indicação de um segundo ministro, e será André Mendonça.
Até aí, nada demais – em termos. Outros governos fizeram o mesmo; o PT indicou Dias Toffoli, que andou pintando e bordando quando o partido estava no poder.
Agora, nesse governo onde tudo pode acontecer, e acontece, o que surpreende é o critério para a escolha do novo ministro: Ele Precisa Ser Terrivelmente Evangélico!
O Pequeno Houaiss, instalado em meu computador, da os seguintes significados para a palavra TERRÍVEL:
1 que provoca terror; assustador, temível
2 muito grande; enorme
3 que produz resultados nefastos
4 muito ruim, de má qualidade
O Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha (Lexikon Ed., 2007) informa que o vocábulo terrível vem de terror (“estado de grande pavor ou apreensão”, “grande medo ou susto”), e é originário do latim terror, - oris.
O advérbio que da força à escolha do futuro ministro, portanto, da o que pensar. Como interpretar a expressão “terrivelmente evangélico”? Segundo o dicionário, uma interpretação possível será:
– Tomem cuidado, algo aterrorizante, assustador, pavoroso, muito ruim, nefasto mesmo, um grande susto vem por aí!
Não sou tão ingênuo a ponto de interpretar ao-pé-da-letra aquele “terrivelmente”, mas esta leitura não é assim tão descabida, pois a estratégia de infundir medo na população sempre foi prática comum nos governos autoritários, desde tempos imemoriais.
Mas dessa vez o alvo é bem outro, são os apoiadores evangélicos, base eleitoral do presidente; a indicação do pastor licenciado da Igreja Presbiteriana Esperança é para lhes satisfazer e angariar votos em 2022. (Melhor seria chamá-lo de pastor terrivelmente bolsonarista.)
O que todos se esquecem, o presidente, o ministro indicado e os apoiadores evangélicos, é do ensinamento contido na própria Bíblia Sagrada e enunciado por dois evangelistas:
“Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” Lucas 16:13.
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” Mateus 6:24.
O que realmente temo é que o futuro ministro acabe servindo apenas a um senhor, ao senhor errado.