A Folha de São
Paulo desta terça-feira, 19 de fevereiro, publicou texto de Hélio Schwartsman
intitulado Missa em latim, que
considero excepcional pela lucidez, coragem, precisão, poder de síntese,
atualidade, e outros atributos mais, tantos que não resisto trazê-lo para o
Louco por cachorros! Desde já, aqui vai o link para o artigo original, para os
que ainda não o leram e desejem fazê-lo:
Para os mais
preguiçosos, apresento um resumo do que foi escrito.
“Ao contrário da esmagadora
maioria dos comentários que li na imprensa, torço para que o conclave eleja um
papa tão ou mais conservador do que Bento 16. ...E o essencial é que hoje, ao
contrário do que ocorria alguns séculos atrás, a religião já não precisa
atravancar a vida de ninguém. ...Se, no passado, um herege podia ser assado em
praça pública e a excomunhão significava uma sentença de morte em vida, agora,
pelo menos nos países democráticos, os ensinamentos morais da Santa Sé não
impedem uma pessoa de viver como preferir, inclusive no campo da sexualidade.
...Teríamos um problema de saúde pública se as autoridades dessem ouvidos ao
que o Vaticano prega em relação à camisinha, mas, felizmente, isso já não
ocorre há décadas no Brasil. ...E por que quero um papa conservador? Para mim,
que não estou preocupado com a disputa por fiéis nem com a vitalidade da
religião, só o que torna a Igreja Católica interessante é seu aspecto
museológico, isto é, a janela que ela abre para o passado. Por razões opostas,
eu e Marcel Lefebvre preferimos a missa em latim.”
Não se pode deixar de reconhecer o
papel da Igreja Católica na formação da cultura ocidental, especialmente no que
diz respeito às artes. Porém, nos dias de hoje, tal importância tem caráter
puramente museológico, como afirma Schwartsman. Se me perguntarem se vale a
pena uma visita turística ao Vaticano, direi que sim, sem pestanejar. Não se
pode morrer sem ver ao menos uma vez a Capela Sistina! O que não dá o direito à
Igreja de proibir aos fieis o uso da camisinha. Ou propalar que o ato sexual só
pode ser praticado com o propósito da procriação. (Há alguns anos, o arcebispo
da Bahia à época não autorizou um certo casamento porque o homem era
tetraplégico e aquela união não poderia gerar filhos.) São mesmo coisas dignas
de museu!
Há mais de cem anos Freud esclareceu
a importância da sexualidade para o ser humano, pelo que pagou altíssimo preço
diante das impiedosas e preconceituosas críticas – que recebe até hoje – frente
à intolerância e ao obscurantismo conservador. Por que então aceitar
passivamente a intolerância e o obscurantismo da Igreja com relação a
gravíssimos problemas de saúde publica, como a AIDS e tantas outras doenças
sexualmente transmissíveis, discutindo exaustivamente, como a imprensa vem
fazendo, se o próximo Papa deve ser mais conservador ou mais liberal? Por mais
liberal que venha a ser, o que ninguém acredita, o fato é que a Igreja
continuará atravancando a vida das pessoas com seus dogmas e proibições
moralistas. Em pleno século XXI, ainda rezando missa em latim.
Assim
penso eu, na boa companhia de Hélio Schwartsman.