Quando morre um famoso com 85, 90 ou mesmo 104 anos, como foi o caso do cientista inglês David Goodall, que pediu para morrer, me admiro de como é possível viver tanto mais do que eu, com meus 71.
Se morre alguém mais novo, como aconteceu ontem com Lois Lane (Margot Kidder), a namorado do Superman, fico pensando como é possível que eu tenha vivido mais do que ela.
Que milagre é esse que faz com que eu permaneça vivo nesse mundo de tantas tragédias, de tantas mortes anunciadas pormenorizadamente todos os dias nos noticiários? Tomo alguns remédios, é verdade, fora isso não faço força para permanecer vivo e ainda assim estou vivo.
Aproximo-me da idade da morte de meu pai. Talvez seja este um limite razoável. Se ultrapassá-lo, poderei experimentar a sensação de ser mais velho que meu próprio pai o foi, estranha sensação que estou a antecipar. Se não alcançar a idade de meu pai, serei para sempre um filho?
Voltando ao trágico mundo em que vivemos, sou grato à Roda da Fortuna por me ter poupado de facear a morte de um filho, a tragédia das tragédias. Mais uma razão para que eu não abuse da sorte.
Estas são singelas reflexões sobre a morte e o morrer, tema a que volto repetidamente desde meus tempos de estudante de Medicina, com a diferença de que agora penso minha própria morte.
Superman não conseguiu evitar a morte do Lois Lane, sua namorada.