A excelente crônica de hoje do psicanalista e escritor
Francisco Daudt na Folha trata da violência e das suas diversas formas de
expressão. (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/204803-violencia.shtml)
Daudt termina com tema recentemente
abordado neste blog, a partir de ensaio publicado na revista Serrote por Joseph
Epstein, intitulado Infantocracia: cada
menino, um delfim. (http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2014/12/a-tirania-das-criancas.html)
Trata-se da
relação entre pais e filhos, aparentemente mais conturbada do que nunca nos
dias de hoje. Eis a abordagem de Daudt:
“A
disparidade de poder entre uma criança e um adulto é a situação mais delicada
com que lidamos: precisamos exercer autoridade junto a nossos filhos, eles
precisam disso. Em situações limite, a autoridade também precisa lembrar que é
mais forte (quando, em geral, basta mostrar que é mais sábia). Se os pais
desenvolverem medo de seus filhos, porque o senso comum os vê sempre como
coitadinhos, não exercerão mais autoridade sobre eles, e com isso... estarão
sendo sutilmente violentos.”
A palavra chave é autoridade,
aplicável tanto no ambiente familiar quanto em sala de aula. Se a criança
realmente precisa dela, negá-la é um
ato de violência, segundo
Daudt. A sutileza a que se refere o autor
reside exatamente no fato de que a criança sem limites encontra-se perdida, desamparada,
frágil, aterrorizada muitas vezes, embora demonstre autossuficiência sob a
forma de arrogância defensiva – o leitor perdoe o pleonasmo. Deixá-la nessas
condições é um tipo de violência, raramente reconhecida pelos pais e pela
sociedade em geral.
Daudt
fala ainda do medo que os pais sentem de seus filhos e penso que a
infantocracia a que se refere Joseph Epstein é que acarreta nos pais tal
sentimento.
O
sentimento que falta para completar este quadro angustiante é o sentimento de
culpa, reconhecido ou não pelos pais, ao tentarem exercer autoridade sobre os
filhos. Em algum lugar, num determinado momento, os pais aprenderam que dizer Não é errado, sob o ponto de vista
pedagógico. Esqueceram-se que dizer Não
significa justamente estabelecer limites, a criança ou o adolescente gostem ou
não. Em tais circunstâncias, dizer Não
é um ato de amor.
O
adulto, porém, não pode se esquecer daquilo que Daudt chamou de “a disparidade
de poder”, entre ele, adulto, e a criança. A fronteira entre autoridade e
autoritarismo é tênue e requer sabedoria para não ser transposta. A criança,
mesmo que não compreenda quando há invasão, ela o sente, e fica marcada por
isso.
Não é fácil ser pai ou mãe,
muito menos filho...