Maria Dolores
postou hoje em seu blog Uma só (1)
(Estadão, 20 nov. 2014) a bela crônica intitulada O lugar seguro da
infância, que assim conclui:
“Quando meu filho pequeno pede para deixar a vida calma e livre
no interior para vir para o dia a dia cercado pelas grades nas janelas, me
coloco no lugar dele – e entendo. O que faz da nossa infância um lugar seguro
não é a liberdade de andar pelas ruas sem medo nem o quintal nem a piscina nem
o brinquedo mais caro do mundo ou o parque mais fabuloso de toda a eternidade.
O que faz da nossa infância um lugar seguro é o amor, é nos sentir protegidos e
amados. E aqui, na rotina da sua vida no décimo quarto andar, é onde ele se
sente assim.”
Nasci em São Paulo, Capital, mas com 1 ano de vida a
família mudou-se para Taubaté, no Vale do Paraíba. Lá nasceu o irmão, o
acontecimento mais importante da minha vida até então (e ainda depois). Por
volta dos 4 ou 5 anos, meu pai, funcionário do Banco do Brasil, transferiu-se
para Guaratinguetá, onde moravam meus avós Breno e Ceci. Por algum tempo
moramos em casa alugada, cômodos diminutos, pobrinha mesmo, nem quintal havia,
e o jeito era brincar na rua.
Em torno dos 5 ou 6 anos mudamos para casa própria,
separada apenas por um portão – permanentemente aberto – que fazia divisa com a
casa de meus avós. Por causa da amorosidade deles, da permanente gentileza, da
discrição exemplar, do carinho que dedicavam aos netos, lá era o lugar seguro
de minha infância.
Além dos avós havia Maria,
meio-empregada-meio-da-família, a criatura mais doce que já conheci. (Para
desespero de minha avó, Maria tratava os gatos que rondavam a casa com iscas de
filé mignon.)
Em Guaratinguetá, ou simplesmente
Guará, nasceu a irmã, completando-se assim um ramo da família Vianna.
Penso que para ambos os três irmãos
a convivência com os avós, especialmente com Ceci, e com Maria (a caçula era a
predileta dela) foi fundamental para nossa constituição afetiva.
Os bebês, desde o nascimento,
precisam de leite, que alimenta o corpo, e amor, que nutre o espírito.