sexta-feira, 21 de novembro de 2014

o celular



...

– o tempo que a gente perde com esta merda...
– é mesmo
– você também?
– também
– carregando pra baixo e pra cima
– e se a gente esquece?
– chiiii...
– e se é roubado?
– uma trabalheira danada
– mas a gente não desgruda dele
– é vício
– acho que é mesmo
– que nem cigarro, pinga, droga
– coisa de mulherzinha
– ou de veado
– credo!
– espantou-se?!
– mas ele é tão bonitinho...
...


Sempre a infância




Maria Dolores postou hoje em seu blog Uma só (1) (Estadão, 20 nov. 2014) a bela crônica intitulada O lugar seguro da infância, que assim conclui:

“Quando meu filho pequeno pede para deixar a vida calma e livre no interior para vir para o dia a dia cercado pelas grades nas janelas, me coloco no lugar dele – e entendo. O que faz da nossa infância um lugar seguro não é a liberdade de andar pelas ruas sem medo nem o quintal nem a piscina nem o brinquedo mais caro do mundo ou o parque mais fabuloso de toda a eternidade. O que faz da nossa infância um lugar seguro é o amor, é nos sentir protegidos e amados. E aqui, na rotina da sua vida no décimo quarto andar, é onde ele se sente assim.”

            Nasci em São Paulo, Capital, mas com 1 ano de vida a família mudou-se para Taubaté, no Vale do Paraíba. Lá nasceu o irmão, o acontecimento mais importante da minha vida até então (e ainda depois). Por volta dos 4 ou 5 anos, meu pai, funcionário do Banco do Brasil, transferiu-se para Guaratinguetá, onde moravam meus avós Breno e Ceci. Por algum tempo moramos em casa alugada, cômodos diminutos, pobrinha mesmo, nem quintal havia, e o jeito era brincar na rua.
            Em torno dos 5 ou 6 anos mudamos para casa própria, separada apenas por um portão – permanentemente aberto – que fazia divisa com a casa de meus avós. Por causa da amorosidade deles, da permanente gentileza, da discrição exemplar, do carinho que dedicavam aos netos, lá era o lugar seguro de minha infância.
            Além dos avós havia Maria, meio-empregada-meio-da-família, a criatura mais doce que já conheci. (Para desespero de minha avó, Maria tratava os gatos que rondavam a casa com iscas de filé mignon.)
            Em Guaratinguetá, ou simplesmente Guará, nasceu a irmã, completando-se assim um ramo da família Vianna.
            Penso que para ambos os três irmãos a convivência com os avós, especialmente com Ceci, e com Maria (a caçula era a predileta dela) foi fundamental para nossa constituição afetiva.
            Os bebês, desde o nascimento, precisam de leite, que alimenta o corpo, e amor, que nutre o espírito.