terça-feira, 5 de junho de 2018

Pessoas Altamente Sensíveis


“Pessoas Altamente Sensíveis (PAS) têm consciência de detalhes muito sutis em seu entorno. Também são reflexivas, intuitivas, criativas, empáticas e cuidadosas. Mas essa característica, como qualquer outra, também têm seus inconvenientes: essas pessoas podem ser muito precavidas e voltadas demais para seu interior. Às vezes se sentem sobrecarregadas e exaustas pela intensa atividade ao estarem, por exemplo com muita gente em ambientes muito barulhentos.”
            Assim tem início a reportagem de Jaime Rubio Hancock para El País (5 jun 2018), cujo título é Equilíbrio e sensibilidade: assim é uma pessoa altamente sensível.
Não se trata de qualquer transtorno mental e sim de algo normal, “uma característica basicamente neutra”, segundo Elaine Aron. De 15% a 20% da população são altamente sensíveis, em diferentes graus, e outros 22%, moderadamente sensíveis. 
“Apesar de esse traço ser associado com frequência com outros, como a introversão e a timidez, Manuela Pérez, presidenta da Associação Espanhola de Profissionais da Alta Sensibilidade, afirma que eles “têm semelhanças, mas são diferentes entre si”, a ponto de 30% das PAS serem extrovertidas.” 
            Nossa sociedade valoriza pessoas extrovertidas, sociáveis e despreocupadas, o que é muito bom, mas não vê com tão bons olhos quem se mostra mais sensível ou precisa de tempo para fica sozinho. Como escreve Aron, “existe essa pressão para fazer o que todos fazem, para serem normais, manter as aparências, fazer amigos, satisfazer as expectativas de todos...”. Isso faz com que as PAS tenham a sensação de “estar indo contra a corrente porque não gostam do que todo mundo gosta e parece que a cultura não os aceita. Em resumo, “você não consegue se encaixar, por mais que tente”.
Afirma Hancock: “Do mesmo modo que uma pessoa muito sociável também precisa aprender a estar só, uma PAS tem que buscar o ponto médio entre se forçar demais no mundo exterior (assumindo muitas responsabilidades, por exemplo) e se manter longe demais no seu interior. Isso significa que às vezes tem de se proteger demais, “quando na realidade o que deseja é estar fora, no mundo”, como escreve Aron. A psicóloga acrescenta que “talvez o mais difícil de tudo seja decidir até onde se proteger, até onde se forçar”, sem deixar de valorizar uma característica que “proporciona muitas coisas de que os demais carecem”.
Por exemplo, Alcón conta que há sábados em que gosta de ficar em casa com um livro e outros em que sai com os amigos, mas conhecendo seus limites: “Talvez eu chegue um pouco mais tarde e saia antes”, conta. “Trata-se de encontrar o equilíbrio” e favorecer “um entorno de conforto em que você possa ser você mesmo”.
O artigo resume o tema ao final: “Uma amostra interessante de como a cultura molda nossa visão sobre a sensibilidade está em um dado que Aron expõe em seu livro: os porcentuais de homens e mulheres PAS são similares. Mas a psicóloga diz que “a cultura determina diferenças”, principalmente porque (ainda) meninos e meninas tendem a ser tratados de forma diferente no que se refere a sua sensibilidade. No caso dos meninos a tendência é reprimir essa sensibilidade, enquanto no das meninas ela é potencializada e podem chegar a ser superprotegidas.
Esse preconceito cultural se mantém na idade adulta, escreve Elaine Aron. De fato, Manuela Pérez, presidenta da Associação Espanhola de Profissionais da Alta Sensibilidade, explica que em consulta recebe “homens com evidente dificuldade de mostrar essa sensibilidade ou expressar as emoções relacionadas com ela, como o choro ou o medo”.

            Não me considero uma PAS (bem ao contrário), porém posso identificar entre amigos, colegas e conhecidos, pessoas que se encaixam nessa condição. Reconhecer isso certamente me ajuda no relacionamento com elas; posso ser mais cuidadoso, medir um pouco mais as palavras, os gestos, respeitar um comportamento que é bem diferente do meu modo estabanado de ser.





Fortaleza moral



El País Internacional (2 jun 2018) publica trecho adaptado de um discurso de Amos Oz, pronunciado durante conferência do Rompendo o Silêncio. O título é Por que romper o silêncio?
            O discurso é longo e selecionei apenas o primoroso parágrafo – sob ponto de vista político e literário – sobre o significado da “fortaleza moral”: 

“Todos que odeiam o Rompendo o Silêncio deveriam refletir sobre uma coisa, pelo menos por um instante: que a fortaleza moral não é um luxo, sequer um mero adorno. A fortaleza moral é necessária para a sobrevivência de uma nação, uma sociedade e uma pessoa. A fortaleza moral não é uma espécie de joia que guardamos em uma caixa forte e que colocamos apenas em dias bons para ter uma aparência melhor. A fortaleza moral não é uma mercadoria produzida para exportação, que se guarda em uma gaveta, pelo menos até que a guerra termine, até que volte a normalidade e o país viva 40 anos de paz, de forma que só então poderemos brandir nossa reluzente grandeza moral, exibi-la no peito e revelar ao mundo quão maravilhosos somos.
Não. A fortaleza moral, especialmente em tempos de guerra, é tão urgente quanto os primeiros socorros em um campo de batalha. O papel de acusador, às vezes, é semelhante ao do médico ou enfermeiro: seu trabalho é como o do médico que abre um abcesso e extrai o pus, para que não se espalhe nem contamine todo o corpo.”

            Quanto dessas palavras aplicam-se ao Brasil de hoje? Falta fortaleza moral ao povo e aos representantes do povo. Precisaremos de um Amos Oz para romper nosso silêncio?