“Pessoas Altamente Sensíveis (PAS) têm consciência de detalhes muito sutis em seu entorno. Também são reflexivas, intuitivas, criativas, empáticas e cuidadosas. Mas essa característica, como qualquer outra, também têm seus inconvenientes: essas pessoas podem ser muito precavidas e voltadas demais para seu interior. Às vezes se sentem sobrecarregadas e exaustas pela intensa atividade ao estarem, por exemplo com muita gente em ambientes muito barulhentos.”
Assim tem início a reportagem de Jaime Rubio Hancock para El País (5 jun 2018), cujo título é Equilíbrio e sensibilidade: assim é uma pessoa altamente sensível.
Não se trata de qualquer transtorno mental e sim de algo normal, “uma característica basicamente neutra”, segundo Elaine Aron. De 15% a 20% da população são altamente sensíveis, em diferentes graus, e outros 22%, moderadamente sensíveis.
“Apesar de esse traço ser associado com frequência com outros, como a introversão e a timidez, Manuela Pérez, presidenta da Associação Espanhola de Profissionais da Alta Sensibilidade, afirma que eles “têm semelhanças, mas são diferentes entre si”, a ponto de 30% das PAS serem extrovertidas.”
Nossa sociedade valoriza pessoas extrovertidas, sociáveis e despreocupadas, o que é muito bom, mas não vê com tão bons olhos quem se mostra mais sensível ou precisa de tempo para fica sozinho. Como escreve Aron, “existe essa pressão para fazer o que todos fazem, para serem normais, manter as aparências, fazer amigos, satisfazer as expectativas de todos...”. Isso faz com que as PAS tenham a sensação de “estar indo contra a corrente porque não gostam do que todo mundo gosta e parece que a cultura não os aceita. Em resumo, “você não consegue se encaixar, por mais que tente”.
Afirma Hancock: “Do mesmo modo que uma pessoa muito sociável também precisa aprender a estar só, uma PAS tem que buscar o ponto médio entre se forçar demais no mundo exterior (assumindo muitas responsabilidades, por exemplo) e se manter longe demais no seu interior. Isso significa que às vezes tem de se proteger demais, “quando na realidade o que deseja é estar fora, no mundo”, como escreve Aron. A psicóloga acrescenta que “talvez o mais difícil de tudo seja decidir até onde se proteger, até onde se forçar”, sem deixar de valorizar uma característica que “proporciona muitas coisas de que os demais carecem”.
Por exemplo, Alcón conta que há sábados em que gosta de ficar em casa com um livro e outros em que sai com os amigos, mas conhecendo seus limites: “Talvez eu chegue um pouco mais tarde e saia antes”, conta. “Trata-se de encontrar o equilíbrio” e favorecer “um entorno de conforto em que você possa ser você mesmo”.
O artigo resume o tema ao final: “Uma amostra interessante de como a cultura molda nossa visão sobre a sensibilidade está em um dado que Aron expõe em seu livro: os porcentuais de homens e mulheres PAS são similares. Mas a psicóloga diz que “a cultura determina diferenças”, principalmente porque (ainda) meninos e meninas tendem a ser tratados de forma diferente no que se refere a sua sensibilidade. No caso dos meninos a tendência é reprimir essa sensibilidade, enquanto no das meninas ela é potencializada e podem chegar a ser superprotegidas.
Esse preconceito cultural se mantém na idade adulta, escreve Elaine Aron. De fato, Manuela Pérez, presidenta da Associação Espanhola de Profissionais da Alta Sensibilidade, explica que em consulta recebe “homens com evidente dificuldade de mostrar essa sensibilidade ou expressar as emoções relacionadas com ela, como o choro ou o medo”.
Não me considero uma PAS (bem ao contrário), porém posso identificar entre amigos, colegas e conhecidos, pessoas que se encaixam nessa condição. Reconhecer isso certamente me ajuda no relacionamento com elas; posso ser mais cuidadoso, medir um pouco mais as palavras, os gestos, respeitar um comportamento que é bem diferente do meu modo estabanado de ser.