sábado, 29 de janeiro de 2022

Imagens de infância

À memória de meu pai



 

 

Criança pequena, talvez aos quatro ou cinco anos, ouvia meu pai dizer:

– Céu pedrento, chuva ou vento!

Durante toda minha infância matutei sobre esta frase. O pai a pronunciava olhando para o céu, naturalmente, e eu também olhava para o céu, na ânsia de compreender. 

Primeiro, me intrigava a palavra pedrento, que me soava feia, e ainda por cima colocada junto ao céu, um lugar tão bonito. Afinal, não era para lá que a gente ia quando morresse? Soava feia, mas penso que ainda não conhecia a palavra nojento, pior que feia, não sei, mas soava igual; de rima, isso eu não sabia. (Eu sabia do que sabia? E tudo aquilo que eu já nasci sabendo! Fora o que aprendia a cada dia – tudo na vida era novidade!)

Não demorou para que me ocorresse o significado de pedrento, embora ainda parecesse estranho. Pedras no céu? Nuvens de pedra? Como foram parar ali? Poderiam cair sobre minha cabeça?

De repente compreendi que se tratava de prenúncio – palavra que, sem dúvida, eu desconhecia. A chuva ou o vento chegariam com certeza se o céu fosse pedrento. Foi então que firmei convicção (infantil) que era a chuva ou o vento que já vinham se aproximando, quando o céu ficava pedrento. Uma descoberta e tanto!

Hoje, ao ver as fotografias desse tipo de céu, me ocorre que foi na tenra infância que comecei a prestar atenção nas palavras, gostar delas, procurar decifrá-las, mas ainda sem saber o que fazer com elas. (Até hoje não sei!) Desconfiei que elas tinham vida própria, mesmo ignorando como pedras foram parar no céu.

Foi assim que céu pedrento nunca mais saiu de minha memória e de minha vida. Meu pai também não.



 







Em Tempo: as fotos são de autores desconhecidos por mim.