Hampstead é um filme ruim. Talvez seja mesmo um
péssimo filme, aquilo que vulgarmente chamamos de xarope. Isso não tem
importância; ao contrário, trata-se do mote em que se apoia esta crônica: até
mesmo de um filme ruim pode-se extrair uma pérola, algo de interessante que
mereça nossa consideração, que afinal provoque alguma elaboração de nossos
pensamentos.
A
comédia romântica tipo sessão da tarde é cheia de lugares-comuns, vulgaridades
fúteis, que se sustenta sobre os ombros de dois atores competentes, Diane
Keaton e Brendan Gleesson (do inesquecível In
Bruges!) – verdadeiras iscas, chamarizes para incautos expectadores, como
eu. Ponto final: o filme não merece outros comentários.
Até
que, transcorrida mais da metade da história, ultrapassado o pesadelo central
do enredo, o casal protagonista encontra-se sentado no sofá da sala da “pobre
casa” do “falso mendigo”, com todas as suas precariedades – falo da casa –,
quando de repente a mulher dá um chilique, não deseja continuar vivendo “naquela
casa”, Você não pode continuar vivendo nessa casa, Não podemos continuar com
essa vida.
Ao
que o homem, com espanto, perplexidade mesmo, fechando momentaneamente o livro
que tem nas mãos, replica:
–
Mas você não está se divertindo?
A
pergunta é desconcertante e só pode advir de alguém cujo modo de viver é
bastante peculiar, único, bem diferente da mulher que está a seu lado.
Penso
que a cena se aplica a um bom número de casais que habitam sob o mesmo teto. Há
quem peça pouco, muito pouco para viver. Há quem precise de muito para sobreviver. Alguns trazem em si o suficiente para viver. Outros iludem-se com o que vem do exterior.
Esta a lição que nos oferece
Hampstead: o significado de “divertir-se” com a vida, uma arte.
De um filme ruim pode-se extrair uma
pérola!
(Quem realmente se diverte com este blog sou eu!)