Aos 75 anos de idade Pablo Picasso teve um sonho. Andava solteiro por aqueles dias, trabalhando em casa, quando a campainha tocou. Foi atender, era Brigite Bardot que viera lhe fazer uma visita. Maravilhado, Picasso convidou-a para entrar e conhecer o ateliê dele.
Brigite, com seu ar ingênuo de menina, mais linda do que nunca, mais sedutora do que nunca, trajava primaveril vestido rodado, de farto decote a descobrir os fartos seios. Picasso, mais bobo do que nunca.
De braço dado com Brigite, o artista lhe mostrava embevecido suas criações, esculturas em madeira, em pedra, em argila, uma cabeça de touro feita com um guidão de bicicleta, arte de onde parecia impossível fazer arte, as telas todas, as mulheres todas de uma vida inteira, os desenhos, ah! os desenhos!
Picasso parou nos desenhos eróticos, eram cadernos e mais cadernos, folhas soltas de todos os tamanhos, tudo ali, explícito, diante da moça embevecida. Até que, nem tão ingênua assim, ela desconfiou que se tratava de uma cantada, cantada artística! Fechou a cara.
Picasso percebeu a recusa, procurou remediar lhe ofertando um presente: ali mesmo, num átimo, pegou de um prato, desenhou em azul uma pomba da paz, e Brigite voltou a sorrir. (Freud diria que aquele expediente foi um artifício do inconsciente para que o sonho não terminasse.)
Ao acordar, antes mesmo do café com brioche, Picasso pintou mais uma mulher. De fartos seios.