Segundo a Folha de S. Paulo, em reportagem de Patrícia Campos Mello (26 jun 19), diplomatas receberam nas últimas semanas instruções oficiais do comando do Itamaraty para que, em negociações em foros multilaterais, reiterem “o entendimento do governo brasileiro de que a palavra gênero significa o sexo biológico: feminino ou masculino”.
Pensava eu que gênero e orientação sexual eram construções sociais, e não apenas determinações biológicas. No entanto, para segmentos da direita, a “ideologia de gênero é um ataque ao conceito tradicional de família”.
“De acordo com fontes do Itamaraty, a instrução foi formalizada porque o Brasil, ao utilizar essa definição, quer evitar ambiguidades. Procurado, o Itamaraty afirmou tratar-se apenas da retomada da definição tradicional de gênero.”
Para Camila Asano, coordenadora da Conectas Direitos Humanos, essa medida pode “comprometer a credibilidade internacional do país”. “Se tal ordem não for imediatamente revertida, o Brasil se unirá a diplomacias que propagam posições retrógradas em espaços internacionais, ignorando avanços nacionais e globais na luta contra desigualdades e preconceitos”, afirma.
Informa ainda Patrícia Mello: “A nova instrução do Itamaraty se alinha a inúmeras declarações do chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, e do presidente Jair Bolsonaro. Em discurso em seminário promovido pelo Itamaraty e pela Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) no dia 10 de junho, Araújo criticou o globalismo, afirmando que o conceito promove ideias como a "ideologia de gênero", ao lado do “racialismo” — segundo ele, a concepção da sociedade dividida em raças — e do ecologismo, definido pelo ministro das Relações Exteriores como a ecologia transformada em ideologia.
“Se o Itamaraty orienta seus diplomatas dessa forma, o Brasil pode se distanciar de países que acolhem refugiados perseguidos justamente por essas razões. Isso mancha a reputação do país como referência na agenda de proteção a refugiados”.
O tema está sendo tratado aqui veladamente, responsabilizando apenas a chamada “direita”, seja lá o que isso possa significar, pela ideologia de gênero. Por trás disso tudo está o fundamentalismo religioso que assola nosso país. Ninguém se assuste se, de repente, o Itamaraty passe a defender o Criacionismo, ou até mesmo, o Terraplanismo.