“No Brasil colonial, trabalho e escravidão caberiam no mesmo verbete de um dicionário. Eram sinônimos. “Sem negros não pode haver ouro, açúcar nem tabaco”, afirmava, em 1739, o vice-rei André de Melo e Castro, conde de Galveias. Nas minas e garimpos de ouro e diamantes, nas fazendas e lavouras de cana-de-açúcar, os cativos submetiam-se a jornadas longas, pesadas e perigosas. A labuta começava antes ainda do nascer do sol e ia até o anoitecer. Nos engenhos, durante a safra, as caldeiras ferviam noite adentro sobre fornalhas que os escravos iam alimentando de lenha, expostos a temperaturas altíssimas. Tarefas como construir e reparar cercas, abrir valetas, roçar as áreas em volta das casas e preparar a farinha de mandioca exigiam ainda jornadas extras, de mais três ou quatro horas de trabalho, sem qualquer outra contrapartida que não o esgotamento físico e o encurtamento da vida útil dos cativos.”
In Escravidão, volume II
Laurentino Gomes,
Globo Livros, 2021, p.295.
Ainda hoje, vez em quando, vemos na mídia a notícia de “trabalho escravo”, quer em zona rural, quer nas cidades grandes. No Brasil colônia, segundo Laurentino Gomes, a expressão era um tremendo pleonasmo! E subsiste.