Haruki Murakami, escritor, e Seiji
Ozawa, maestro, ambos japoneses, tiveram suas longas conversas sobre música
publicadas no recém lançado livro Absolutely
on Music.
Murakami
pergunta a Ozawa por que exige que jovens músicos toquem num quarteto de cordas,
se o objetivo final é a formação orquestral, projeto que desenvolve na Suíça. E
a resposta de Ozawa é interessantíssima: “Sem música de câmara, um músico não
faz música. É na música de câmara que ele aprende a ouvir a si mesmo e aos
outros.”
João Luiz Sampaio, no artigo para O Estado de S. Paulo de hoje, afirma:
“A declaração serve de bom exemplo para a defesa da música
de câmara como base da vida musical de qualquer país. Ainda assim, no Brasil
ela ainda é, na melhor das hipóteses, periférica.”
E para mudar
essa realidade nasceu o Festival Sesc de Música de Câmara, agora em sua segunda
edição, com cerca de 50 concertos em todo o Estado de São Paulo. A iniciativa é
mesmo espetacular!
É
possível que já tenha registrado neste blog uma história que trago comigo há
muitos anos, e que ouvi de minha mãe. Não canso de repeti-la.
Ela não
tinha qualquer formação musical, a não ser os rudimentos de teoria do curso
secundário. Mas adorava música. Até que em certa altura, ela saiu-se com esta
pérola:
“Primeiro a gente aprende a gostar de
sinfonias, de grandes orquestras tocando uma música ruidosa, emocionante, que
toca a alma pela força dos sons. As sinfonias de Beethoven são inigualáveis! A
Sexta é minha preferida.
Depois passamos a apreciar os concertos,
onde se apresentam um instrumento solista e a orquestra, numa conversa musical
mais sofisticada. Os cinco concertos para piano e orquestra de Beethoven são
incomparáveis! O Concerto Tríplice de Beethoven é maravilhoso.
Por último, chegamos à musica de
câmera. Ela é mais difícil, exige mais do ouvinte. Eu, por exemplo, não gosto
dos quartetos de Beethoven e detesto os quartetos de Villa-Lobos. Gosto muito
da música de câmara de Schubert, de seu famoso quinteto para piano e cordas, A
Truta.
Isso é o que penso sobre como deve ser
a nossa educação musical.”
A
história impressionou-me muitíssimo quando a ouvi pela primeira vez, e tomei-a
por verdade. Passei a repeti-la vida afora. Agora, penso que a resposta de
Ozawa a Murakami – “É na música de câmara que ele aprende a ouvir a si mesmo e
aos outros” – confirma a teoria toscamente apresentada por minha mãe, a quem
sou grato por tudo que me ensinou.
Para os que
tiverem curiosidade, se é que ainda não conhecem, eis uma boa gravação de A
Truta, o quinteto em lá maior para piano e cordas, com músicos brasileiros: