quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Pergunta-se: Bolsonaro é louco?

 

Em crônica de 23/jan/2021 para a Folha de S.Paulo, Hélio Schwartsman interroga: Bolsonaro é louco?

            Penso que todos nós algum dia já fizemos esta pergunta, diante de tantos desvarios, disparates, manifestos em atos e palavras, oriundos do presidente. 

            Segundo grupo de psiquiatras, afirma Schwartsman, ele “apresenta comportamentos compatíveis com critérios de transtornos de personalidade descritos tanto no CID-11 como no DSM-5. O que se destaca são traços de personalidade narcísica e paranoide, evidenciados por falta de empatia, agressividade, desconfianças (com o sistema eleitoral, por exemplo) e alguma desconexão com a realidade.”

            Circula hoje nas redes sociais vídeo de ontem com fala do presidente, com as seguintes palavras: "Vai pra puta que o pariu, porra. Imprensa de merda essa daí. É para enfiar no rabo de vocês aí, vocês não, vocês da imprensa essa lata de leite condensado.”

            Minhas desculpas aos mais sensíveis ao uso do palavrão, mas preciso reproduzir as palavras do presidente, para responder à pergunta que empresta título à crônica de Schwartsman: “Bolsonaro é louco?

            

            Em Hamlet, a fundamental peça de William Shakespeare, Polônio, pai de Ofélia,  desconfiado da sanidade mental de Hamlet, estabelece longo diálogo com o príncipe, que aqui resumo:

 

Hamlet: “Palavras, palavras, palavras.”

Polônio: “Qual a questão, meu senhor?”

Hamlet: “Em quem?”

Polônio: “Quero dizer, a questão sobre que estais lendo, meu senhor.”

Hamlet: “Calúnias, senhor; pois este malandro de satírico diz aqui que os velhos têm barbas grisalhas, faces enrugadas, olhos que excretam âmbar espesso e goma de ameixeira; diz ainda que têm ampla falta de discernimento, a par de fraquíssimos jarretes: embora eu creia nisso tudo vigorosa e intensamente, não me parece bem que esteja assim posto por escrito, pois vós mesmo, senhor, havíeis de chegar à minha idade... se pudésseis retroceder como um caranguejo.”

Polônio (à parte): “É loucura, mas há método nela.”

 

            (Hamlet, Abril Cultural, 1976, tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos.)

            Agora posso responder à questão formulada por Schwartsman: “É loucura, mas há método nela.”

            Todos sabem, Hamlet havia traçado plano para vingar o assassinato do pai, e se fazia de doido para enganar a corte. Hoje, nós somos a corte.

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2021/01/bolsonaro-e-louco.shtml

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2021/01/e-para-enfiar-no-rabo-de-voces-da-imprensa-essa-lata-de-leite-condensado-diz-bolsonaro.shtml