sexta-feira, 8 de setembro de 2017
Anel de Giges
Stálin tira um, tira dois,
tira três camaradas até sair bonito na foto.
O artigo
assinado por Vinícius De Bragança Müller Oliveira, doutor em História Econômica
pela USP e professor do Insper, (4
Setembro 2017) traz um título altamente sugestivo e provocante: Por que não derrubar o Cristo Redentor?
Oliveira trata de como
devemos analisar a História, reveladora de algumas passagens verdadeiramente
vergonhosas. Ele responde com brilhantismo:
“A
História não se apaga, se estuda. Se alguém não pode compreendê-la e só sabe
usá-la em seus julgamentos, o erro é dele, não meu. As contradições e equívocos
devem ser vistos, não tornados invisíveis. E são as contradições que movimentam
a História. A linearidade é matemática. Ou é censura. História é transparência.”
O autor utiliza a
alegoria descrita por Platão, O Anel de Giges, que dependendo da posição no dedo,
é capaz de tornar o sujeito invisível. A
questão que surge é se quando invisíveis, fazemos
aquilo que se estivéssemos sendo vistos não faríamos. Em outras palavras, “quando
colocamos o anel ou a capa da invisibilidade, tomamos atitudes contrárias àquilo
que defendemos publicamente”.
O tema
não poderia ser mais atual!
Embora Oliveira privilegie o olhar que
devemos ter para a História, nada nos impede de perguntar:
– Quanto tempo leva um político de
projeção, ocupante de cargos de Ministro de Estado, acobertado pela
invisibilidade, para encher malas e mais malas de dinheiro sujo?
– Quanto tempo leva o saquear
continuado de uma grande empresa por saqueadores profissionais, portadores do
Anel de Giges?
– Quanto tempo leva um ou mais partidos
políticos para ludibriarem seus eleitores com propaganda enganosa, enquanto
saqueiam?
– Por quanto tempo ainda o povo será
mantido na ignorância, que perpetua a cegueira, pela precária educação que lhe
é oferecida?
Parece-me
interessante associar a invisibilidade dos corruptos com a cegueira dos que são
saqueados! A raposa é indicada para tomar conta do galinheiro, mas o dono do
galinheiro não a vê como raposa. E nem é preciso um anel para estabelecer a
cegueira.
Afirma Oliveira que “a transparência
seria um antídoto ou um freio ao risco moral”. A imprensa livre tem a
capacidade de tornar visíveis aqueles que se escondem, na garantia da
impunidade que o Anel lhes dá.
Enfim,
Platão sempre atual!
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