sábado, 30 de setembro de 2017

Outro sonho de Amós Oz

                   Pleno deserto, sol de meio-dia.
     Último terrorista, de pé sobre um pequeno monte, afirma que, com a derrota definitiva do Estado Islâmico, não vale mais a pena viver.
            Ele arrancou turbante que lhe cobria o rosto, tirou da cintura a faca, cortou o próprio pescoço com golpe certeiro, adquirido pela prática, espirrando sangue sobre a areia quente do deserto.
            Assim morreu o último fanático, pensou Amós Oz, ainda durante o sonho.
            Oz acordou aliviado, antes que se desse conta de que era um sonho.


Deus nas escolas

Em sua coluna de hoje (30/09/2017) para a Folha de S.Paulo, Por uma escola sem Deus, Helio Schwartsman não deixa por menos: “O Supremo Tribunal Federal cometeu um pequeno crime contra a garotada ao autorizar o ensino religioso de caráter confessional nas escolas públicas brasileiras.”
Schwartsman propõe a substituição do ensino confessional por uma “abordagem histórico-antropológica”, perfeitamente compatível com o princípio do Estado laico.
Afirma ainda que as religiões “desenvolveram uma complexa rede de captura de fiéis que inclui pregadores individuais, propaganda boca a boca, canais de rádio e TV, cursos de catecismo, escolas dominicais etc.” Não é por falta de propaganda que elas não haverão de florescer, aqui e em outros países.
Conclui o articulista: “ao permitir que igrejas se apropriem de vagas de professor e de horas de aula, o STF perpetrou um delito de lesa-pedagogia.”
O que o artigo não fala, e não tenho visto a abordagem que agora explicito, é sobre o papel reservado à família no que diz respeito ao ensino religioso. Por que não reservar à família esta missão? 
Está compreendida aqui a ideia da opção desta mesma família de não oferecer aos filhos qualquer ensino religioso. (Foi o que fiz e não me arrependo por isso.)
Da mesma maneira, os princípios éticos vigentes em nossa sociedade são transmitidos aos filhos quase que desde o nascimento, papel inalienável dos pais perante seus filhos.
Para que transferir esta responsabilidade à escola?
Além do que não se pode ter a certeza do que, de fato, será ensinado. As convicções íntimas do professor nunca serão conhecidas. Me assusta a ideia de entregar um filho para alguém que não conheço, para tratar de assuntos tão complexos quanto delicados.
Aliás, a primeira página do mesmo jornal traz hoje a seguinte notícia: "Quase metade dos diretores das escolas públicas do país foram escolhidos por indicação, em geral políticos, sem critérios objetivos. Eles tendem a ter pior formação e menos experiência do que os selecionados por concurso ou eleição". Não é mesmo preocupante?
O Supremo pisou na bola.