A música do dia.
A Sonata para piano No. 32, em dó menor, Op. 111, de
Beethoven, composta entre 1820 e 1822, não foi reconhecida por seus
contemporâneos, pela dificuldade técnica que apresentava e pelas ousadias
rítmicas. Somente a partir da segunda metade do séc. XIX ela entrou para o
repertório dos grandes pianistas. Hoje é considerada obra prima de destaque,
entre tantas outras de Beethoven.
Esta sonata foi a última a ser composta
para piano, seguindo-se obras importantes como os últimos quartetos, a Nona
Sinfonia, as Variações Diabelli, as Bagatelas, a Missa Solemnis, indicando que Beethoven era um compositor em plena
atividade quando escreveu o Op. 111, a despeito da surdez progressiva.
Há uma curiosidade literária ligada a
esta peça, quando Thomas Mann, em Doutor Fausto, coloca na boca do imaginário
professor Kretzschmar a pergunta por que Beethoven não escreveu o terceiro
movimento desta sonata. Parece que alguém havia formulado a questão diretamente
ao compositor, ao que Beethoven teria respondido, com o mau humor costumeiro:
“Não tive tempo de escrever um!”
Não tenho conhecimento de teoria
musical para uma avaliação mais profunda da sonata, porém o que me impressiona
são as variações rítmicas, com passagens muito delicadas, de simplicidade
comovente, seguidas por outras de ritmo desenfreado, sugerindo o jazz , ou
mesmo o boogie-woogie, que seria inventado um século depois.
O primeiro movimento,
com duração de pouco mais de 9 min apresenta um Maestoso, seguido por um Allegro
con brio e appassionato. O segundo movimento, bem mais longo, com 18 min,
inicia-se com a famosíssima Arietta:
Adagio molto, símplice e cantábile, seguida do L`istesso tempo.
Em minha opinião de
leigo, porém louco pela sonata!, não há um terceiro movimento porque, depois que
Beethoven compôs o segundo, nada mais poderia ser acrescentado. É a perfeição.
Esta é peça para piano
favorita deste blogueiro. Mitsuko Uchida e Arturo Benedetti Michelangeli têm
gravações magistrais.