“Devo deixar
de assistir Woody Allen?”
Quem traz a questão para a reflexão
do leitor é Michael Keep, jornalista americano radicado no Brasil, em artigo publicado
na Folha de hoje.(1) A filha
adotiva de Allen, vítima de suposto abuso quando tinha 7 anos de idade, bem
como outras personalidades nos Estados Unidos, acham que sim, que não devemos mais
assistir filmes do genial diretor.
Assim sendo:
1- estamos
todos proibidos de admirar qualquer pintura de Caravaggio;
2- ouvir
Wagner, nunca mais;
3- depois de
O Evangelho segundo Jesus Cristo, os católicos ficam terminantemente proibidos
de ler Saramago;
4- considerar
a filosofia de Martin Heidegger, nem pensar;
5- porque
Drummond supostamente teve uma amante durante anos, sua poesia agora é lixo;
6- depois do
que Monteiro Lobato escreveu sobre Anita Malfatti, o Sítio do Picapau Amarelo
deve sair do ar;
7-
Nietzsche, porque afirmou que Deus está morto, merece todo o nosso
esquecimento;
8- a lista é
interminável e nela poderiam estar contidas todas as gerações de seres humanos,
desde sua origem até o futuro mais remoto, exatamente porque somos todos
humanos.
Michael Keep se pergunta, “Se
esquadrinhássemos a moralidade de todos os artistas, que arte restaria para
apreciarmos?”
Porém, o pendor do ser humano para o
julgamento é inesgotável, reforçado permanentemente pelo fundamentalismo religioso.
É o preto no branco, o certo ou errado. Considerar as circunstâncias dá muito
trabalho, exige o pensar.
De minha parte, aguardo o próximo
filme de Woody Allen com a expectativa de sempre!