Uma fêmea de Oikopleura dioica cheia de ovos
A reportagem
de Manuel Ansede no El País de ontem (13/6/2016) traz o péssimo
título O bichinho que desafia Deus, mas
é interessantíssima. O trabalho foi publicado na revista Nature
Reviews Genetics e começa com uma frase do imperador romano Marco Aurelio:
“A perda nada mais é do que mudança, e a mudança é um prazer da natureza”.
Os biólogos Ricard Albalat e Cristian Cañestro
afirmam: “Temos sido mal influenciados pela religião,
pensando que estávamos no topo da evolução. Na verdade, estamos no mesmo nível
que o dos outros animais.” Ambos dirigem um dos únicos três centros
científicos do mundo dedicados ao estudo do Oikopleura dioica, (os outros dois estão na Noruega e
no Japão), na Faculdade de Biologia da Universidade de Barcelona.
Eis o grande
destaque da reportagem: “O organismo marinho Oikopleura dioica indica que a perda de genes ancestrais,
compartilhados com os humanos, seria o motor da evolução.”
Até agora pensava-se que evoluir
implicava em ganhar complexidade, adquirindo genes. “A maioria de nossos genes
está também nas medusas. Nosso ancestral comum os possuía. Não que tenhamos
ganhado genes; eles é que perderam. A complexidade genética é ancestral”, diz
Cañestro.
O Oikopleura, vivendo nos
oceanos desde 500 milhões de anos, perdeu 30% dos genes. E fez isso com
sucesso.
Albalat e Cañestro afirmam que “a perda
de genes pode inclusive ter sido essencial para a origem da espécie humana. O
chimpanzé e o ser humano compartilham mais de 98% do seu genoma. Talvez
tenhamos que procurar as diferenças nos genes que foram perdidos de maneira
diferente durante a evolução dos humanos e dos demais primatas. Alguns estudos
sugerem que a perda de um gene fez com que a musculatura de nossa mandíbula
ficasse menor, o que permitiu aumentar o volume do nosso crânio. Talvez, perder
genes nos tornou mais inteligentes que o resto dos mortais.”
O Louco
confessa mais uma vez sua paixão pela Evolução das Espécies (antigamente
conhecida por Teoria da Evolução das Espécies).
Foto: Cañestro & Albalat Lab