Somente agora a editora
Dublinense publica (2015) o primeiro livro escrito pelo português José Luís Peixoto, originalmente
lançado em Portugal no ano 2000, e que revelou este que é hoje o premiadíssimo
autor.
A prosa poética de Peixoto tem início pelo próprio título
da obra:
Morreste-me
Só os portugueses seriam capazes desta surpreendente e
bela construção verbal!
O livro trata da morte do pai, uma homenagem que
certamente fez parte do processo de superação do luto pelo autor. (Mais uma
vez, e não se cansa de repetir, este blogueiro faz referência à função
terapêutica da escrita.)
Eis uma pequena amostra do texto:
“E pensei não poderiam os homens morrer como morrem os
dias? Assim, com pássaros a cantar sem sobressaltos e a claridade líquida
vítrea em tudo e o fresco suave fresco, a brisa leve a tremer as folhas
pequenas das árvores, o mundo inerte ou a mover-se calmo e o silêncio a crescer
natural natural, o silêncio esperado, finalmente justo, finalmente digno.”
A maneira como o autor encerra seu relato é belíssima e
revela enorme paz de espírito:
“Eras um pouco muito de mim. Descansa, pai. Ficou o teu
sorriso no que não esqueço, ficaste todo em mim. Pai. Nunca esquecerei.”
Quando podemos sentir de verdade que aquele que parte
permanece dentro de nós, este o maior alívio, o maior amparo possível diante da
perda de um ente querido.