Poucos minutos antes da hora do almoço alguém toca a campainha. É o carteiro, diz Belarmina. O carteiro, hora dessas? interrogo. Será uma multa de trânsito?
Era o carteiro, e trazia com ele uma pequena encomenda, um embrulho caprichosamente feito à mão, de papelão, recoberto por papel branco, amarrado com fino barbante amarelo. Em letra manuscrita estavam meu nome, endereço completo com CEP e tudo, o carimbo da postagem de 24 de abril de 2019, e o bilhete Registrado dos Correios. Uma obra prima de embrulho! Tão bonito que tive a ideia de fotografá-lo, antes de abrir. O remetente, meu irmão Paulo Sergio.
Tomado por certa agitação – os dois ovos fritos quase queimaram na frigideira, não fosse Belarmina acudi-los – abri com uma faquinha o esmerado embrulho. O que encontrei ainda era mais precioso: uma caixinha medindo exatamente 7,5 x 5,0 x 3,8 cm, de cartão revestido de papel branco, lombada verde, com o título Dom Casmurro, de Machado de Assis. Ela continha um pequeno livro, uma verdadeira miniatura, pouco menor que as citadas dimensões, com as mesmas inscrições da caixa.
Ao abri-lo, depois da folha de guarda, na segunda folha, os dizeres:
DOM CASMURRO
el la portugala tradukis
Paulo Sergio Viana
Sanpaulo
2019
Há momentos que valem por uma vida inteira, e este foi um momento de felicidade plena. O significado do presente estava desde logo expresso no capricho do embrulho.
Paulo traduziu para o Esperanto a obra prima de Machado de Assis, agora publicado na delicada forma de uma miniatura, mas perfeitamente legível.
Minha mulher perguntou, E você vai ler? ao que respondi, Além de ter o livro, ainda preciso lê-lo? Confesso, com certo constrangimento, não leio ou falo Esperanto. O constrangimento deve-se ao fato de que meu irmão é um ícone do Esperanto nacional, mundialmente conhecido. Já traduziu para o Esperanto até mesmo José Saramago, além de outros romances de Machado. Eu, rematado ignorante.
Adorei o presente!