A palavra arroubo me intriga. Os mais diferentes dicionários registram que se trata de manifestação repentina de entusiasmo; êxtase, enlevo, manifestação ou expressão súbita de intensa êxtase; arrebatamento; expressão ou demonstração de êxtase, de enlevo ou de encanto; num arroubo de felicidade; sensação de contentamento causada por uma grande admiração ou felicidade.
A etimologia da palavra parece ser obscura. O grande Deonísio da Silva não faz referência a ela em De onde vêm as palavras (Ed. Novo século). Antônio Geral de Cunha, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (Ed. Lexicon), registra o verbo arroubar, extasiar-se, enlevar-se, arrebatar-se; do castelhano arrobar, ligado a robar, roubar.
Roubar o quê e de quem?
Já o bom Dicionário inFormal registra como Sinônimos de arroubo:
arrebatamento anagogia encantamento enlevo entusiasmo
excitação êxtase focagem furor ímpeto incandescência ira raiva
rapto rompante transporte encanto amenidade atrativo beleza
charme deleite deslumbramento fascinação graça imã magia
mágica sedução suavidade tetéia ebriedade embevecimento
embriaguez admiração espasmo condução translação trasladação delírio vôo suspensão
Chamo a atenção do leitor para os sinônimos ira, raiva, rompante. São eles que me interessam nessa pequena crônica. (Façamos o desconto necessário: sinônimos perfeitos não existem; cada palavra tem seu próprio e único significado.)
Sempre acreditei que a palavra arroubo carregasse uma boa porção de raiva e rompante, que surgem do inconsciente. Rompante implica reação. E reação muitas vezes como resposta inconsciente, automática, deflagrada por determinado estímulo sobre o qual não temos controle naquele momento em que ele é disparado. A tal resposta chamo de arroubo.
Passado o arroubo, podemos pensar sobre ele. Se arroubo significa tão somente manifestação repentina de entusiasmo, não há muito o que dizer sobre isso, é apenas enlevo, encanto. (O que não é pouco.)
Quando é rompante, com raiva, furor e ímpeto, trata-se de algo oriundo do próprio sujeito, daquele que rompe, e não daquele que é atingido pelo arroubo. Entretanto, ambos podem tirar proveito do ocorrido, desde que possam pensar. O autor do rompante, se puder, fará então profunda autocrítica: por que reagir daquela forma? O alvo do arroubo poderá considerar tanto as razões do outro como sua própria maneira de ser, vítima de um rompante.
O roubo, de que fala a etimologia, talvez se refira à capacidade de pensar: o ego é roubado da função fundamental que lhe cabe, a capacidade de pensar. Em vez de pensar surge o arroubo.
Por que razão haverá de me intrigar a palavra arroubo?