Os brasileiros andamos tão
desmoralizados que os dias que antecederam a Abertura dos Jogos Olímpicos foram
de franco pessimismo. Temíamos pelo pior, algo parecido com a queda da ciclovia
na Avenida Niemeyer. Falava-se na limitação financeira para uma apresentação
digna, duvidava-se da possibilidade de um espetáculo de bom gosto, uma
patacoada na certa, se não uma tragédia completa! Quando ouvi falar que a
Gisele iria desfilar entrei em pânico: meu deus, o que ela tem a ver com olimpíadas!?
O mundo, mais uma vez, vai rir de nós, na capa do The Economist.
Reversão completa de expectativa! O Brasil revelou um
grande Brasil.
Dominou o
gosto apurado, cheio de delicadezas, como nos momentos iniciais, com os mosaicos
inspirados em Athos Bulcão, artista nascido no Rio e consagrado em Brasília;
com o hasteamento da bandeira e Paulinho da Viola cantando o hino nacional ao
violão, acompanhado por pequena orquestra de cordas.
O desfile de Gisele Bundchen numa enorme passarela foi
pura beleza e emoção, ao som da Garota de Ipanema – Salve Ipanema e a Bossa
Nova! A mulher brasileira não poderia ser mais bem representada!
Fernando Meirelles resumiu a história do Brasil desde o paraíso
virgem até a construção da floresta de concreto que é São Paulo. A chegada dos
negros ao país, caminhando com os pés de chumbo da escravidão, foi dos
instantes mais emocionantes.
Restava a grande pergunta: quem acenderia a pira
olímpica? Um atleta vitorioso? Uma figura de importância nacional, orgulho dos
brasileiros? Algum ser do outro mundo?
Outra reversão de expectativa! Vanderlei Cordeiro de
Lima, ex-boia fria, ex-maratonista, foi um perdedor, ao ser impedido de ganhar
a maratona de Atenas em 2004 por um padre louco. Por isso mesmo, tornou-se um
vencedor, e merecidamente – com bom gosto e delicadeza – foi o escolhido.
Durante hora e meia os brasileiros tivemos restituída
nossa honra e orgulho da pátria onde nascemos. Mantê-los é outra história.