Morador de Brasília há mais de
40 anos, nunca escondi um certo constrangimento em confessar que tenho anulado
meu voto nas eleições para governador do Distrito Federal. A escolha foi sempre
entre o candidato péssimo e o pior ainda (aquele que nem superlativo tem).
Resultado: voto nulo, para depois não passar raiva, como se diz por aqui.
Porém,
ouço constantemente dos politicamente corretos que anular o voto não é
razoável, significa votar no pior, é deixar de exercer a cidadania, blá blá blá.
Daí o constrangimento.
Até
que leio hoje no Estadão a crônica de Hélio Schwartsman intitulada Não
votar é bastante lógico, que me lavou a alma! Ele não vê qualquer problema
nas abstenções, votos brancos e nulos nas recentes eleições, aliás, sinal de democracia.
Nos
países onde o voto não é
obrigatório, a abstenção varia entre 50 e 90 por cento.
Segundo
Schwartsman, “não há
nenhum problema moral ou prático em anular o voto ou deixar de comparecer. O
pleito vale do mesmo jeito. É preciso ressaltar apenas que, ao não votar, o
eleitor também está tomando uma posição política, em geral favorável ao
"statu quo". (O que também é discutível, em meu ponto de vista.)
Mas o que intriga mesmo o
articulista “é a patrulha em favor do voto consciente, quando se considera que,
do ponto de vista puramente racional, a decisão de não votar pode ser a mais
sensata. Como em qualquer colégio eleitoral suficientemente grande a chance de
cada sufrágio singular determinar o resultado é desprezível, o investimento em
deslocar-se até a urna só supera o custo se o cidadão extrair satisfação
pessoal do ato de votar. Muitos de fato têm prazer ao definir os rumos da
nação, mas esse está longe de ser um sentimento universal.”
Aí está o xis da questão:
a satisfação pessoal do ato de votar. Como obter prazer na escolha entre o ruim
e o pior? E depois sentir-se culpado por ter eleito um filho da puta!