quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Indignados e mamulengos

 

Este blog publicou 35 textos nos quais se destaca a palavra indignação, em determinadas situações que se faz necessária a capacidade do homem de se indignar. Esta capacidade precisa ser conservada a todo custo, sob risco de se perder a condição de humanidade!

Em 3 de março de 2017 publiquei pequeno texto sobre certa indignação de José Saramago: “Pudesse eu, fecharia todos os zoológicos do mundo. Pudesse eu, proibiria a utilização de animais nos espetáculos de circo. Não devo ser o único a pensar assim, mas arrisco o protesto, a indignação, a ira da maioria a quem encanta ver animais atrás das grades ou em espaços onde mal podem mover-se como lhes pede a natureza”, escreveu o escritor português José Saramago em seu blog no dia 20 de fevereiro de 2009. “Todos que amamos os animais assinamos em baixo”, acrescentei eu. 

(https://loucoporcachorros.blogspot.com/2017/03/saramago-sempre.html)

Outras postagens tratam do estupro de crianças, dos abusos perpetrados por padres pedófilos, dos incontáveis ‘epítetos presidenciais’ que pululam nas redes sociais, do precaríssimo saneamento básico do nosso país, do dia em que atingimos 500.000 mortes pela covid-19. Nada disso se compara à minha indignação diante do macabro capítulo de nossa história, que vivemos nos dias atuais, o da vacinação das crianças entre 5 e 11 anos de idade.

Ouvi ontem em noticiário da tevê a Dra. Margareth Dalcolmo afirmar que as medidas recentemente tomadas pelo governo federal sobre a vacinação de crianças não passam de “medidas protelatórias”. Durante a pandemia de covid-19, a Dra. Margareth Maria Pretti Dalcolmo ganhou papel de destaque, sendo considerada uma das principais especialistas em covid-19 e doenças pulmonares do país. Tornou-se participante ativa dos principais telejornais e programas brasileiros com o intuito de alertar a população dos riscos da doença e difundir a ciência para os telespectadores. Por isso foi nomeada Personalidade 2020 pelo Prêmio Faz Diferença

Pois esta respeitadíssima cientista afirma com todas as letras que o governo federal tem feito uso de “medidas protelatórias” na vacinação de crianças. O nome disso é CRIME! E crime exige julgamento e punição!

Destaco as principais atitudes governamentais que configuram e reafirmam o crime continuado, por se tratarem tão somente de medidas protelatórias: estabelecimento de consulta pública para tratar do assunto; em seguida, realização de audiência pública; exigência de receita médica para a aplicação da vacina; retardo na compra das vacinas da Pfizer, específicas para crianças; em meados de dezembro passado a Anvisa autorizou o emprego desta vacina, considerando-a segura e eficaz, e nenhuma providência foi tomada pelo ministério da saúde; seguidas declarações do presidente da República tentando desmoralizar a vacinação infantil, utilizando como exemplo a própria filha, que segundo ele não será vacinada; incontáveis declarações do ministro da Saúde, médico, procurando engambelar a imprensa e a população, afirmando não haver urgência para tal vacinação; por último, e a mais importante notícia, a morte de uma criança a cada 2 dias por covid-19 no Brasil, mortes evitáveis, portanto, pela vacinação.

Quem não se indignar com isso é porque perdeu completamente a capacidade de se indignar. Tornou-se um mero mamulengo.

Realize seu desejo

Charge do dia 



Leandro Assis e Priscila Oliveira 
para a Folha de S. Paulo hoje